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Como vai a arte brasileira?

Artistas, estudiosos e críticos fazem um diagnóstico de nossa atual produção cultural

Olívio Tavares de Araújo é cineasta e crítico de arte
Ao longo da trajetória do homem no planeta houve momentos de razoável harmonia, em que vigoraram valores de racionalidade e equilíbrio: a Grécia clássica, o Renascimento, o Século das Luzes. E houve também momentos de crise, conflito, insegurança e angústia, como a Idade Média e o Barroco. É à luz dessa polaridade, a partir de uma visão histórica ampla, que me sinto obrigado a pensar certas questões da arte hoje, no Brasil - que aliás não nos são peculiares. Afinal, a maior parte do que se faz aqui tem como matriz ideológico-estética o que se faz no Primeiro Mundo, e chegar à Documenta de Kassel tem sido a meta sonhada pelos jovens artistas do Terceiro.
Como o historiador de 2100 interpretará o século 20? Qual terá sido nosso Zeitgeist, nosso "espírito da época"? De minha parte, acredito que será reconhecido como terrível, de crise talvez inigualada em nenhum outro momento da cultura. Apesar dos triunfos da ciência, espiritual e eticamente estamos mais para os desvãos da Idade Média que para a autoconfiança otimista do Renascimento. De Auschwitz à Aids, passando pelo 11 de setembro, vivemos tempos sombrios, como dizia Brecht. É isso que se traduz nas deformações de Picasso, assim como nas milhares de obras que nos últimos anos utilizam vísceras, ossos, gordura, cera, dentes, cabelos etc. São reveladoras e verídicas.
Mas a crise chegou a tal ponto que desestruturou os próprios sistemas e os códigos expressivos. É verdade que ainda há artistas que fazem o que outrora entendíamos como arte: um objeto tangível e contemplável, dotado de certas especificidades e qualidades sensíveis. Mas, ao mesmo tempo - no Brasil e no mundo -, qualquer coisa passou a poder ser considerada arte, desde que se estabeleça a seu redor um discurso autorizado que a afirme. Isto é, o circuito artístico - os grandes marchands, seguidos pelos grandes certames, museus, curadores, crítica - passou a decretar a artisticidade de dada situação ou objeto quase que independentemente da própria realidade do objeto. Como subproduto da arte conceitual (que triunfou nos anos de 1970), a formulação e a formatação da obra perderam a importância. Em certos círculos, fazer pouco e falar habilmente se tornaram a chave do sucesso.
É verdade que o minimalismo deu obras de extrema concisão e beleza e deixou marcas importantes na arte mundial de 1970 para cá. No Brasil, porém, nesse terreno, já há alguns anos anda-se empurrando gato por lebre. Brinco sempre (mas Freud já ensinava que por trás de cada chiste há um significado mais sério) dizendo que o minimalismo aqui virou pouquismo. Estou decididamente cansado de tanta empulhação em exposições de jovens e em grandes levantamentos institucionais da produção recente, tanta idéia pobre e tanta solução rudimentar, que ao coitado do público se vendem como rigor conceitual e parcimônia expressiva.
E ainda não é tudo. Usando de seu poder sempre crescente, as instituições (aí compreendido o mercado) começaram a instaurar como arte o simples entretenimento. Não sei se resulta de mera ignorância, ou de certa perversidade. Arte pode ser também entretenimento, mas o que faz dela arte é conter essencialmente uma reflexão formal sobre o mundo, uma concretização de dado Zeitgeist. É um fenômeno complexo, mobilizador, prazeroso - mas que faz pensar. O assustador é que as novas gerações - os meninos de escola que são levados a esses certames - possam crescer acreditando que chutar uma bola numa grade de ferro (como na última bienal) seja arte. Irão incompreender e odiar toda obra séria que se lhes deparar, no futuro.


Avatar Moraes é artista plástico

As considerações a seguir referem-se às categorias de arte visual exibidas em centros culturais, museus e galerias de arte.
Institutos desse tipo existem em todas as grandes cidades do mundo ocidental, mas não há entre eles nenhuma relação orgânica centralizadora. O que os identifica entre si e os diferencia das demais instituições é a convicção tácita de que a arte é um fenômeno de importância transcendental, cuja existência deve ser estimulada, difundida e preservada. É por meio deles que a idéia de arte se realiza, isto é, torna-se um fenômeno social objetivo. São essas agências, e somente elas, que instauram, legitimam e consagram a produção artística.
Entretanto, a ausência de centralização administrativa não significa que essas entidades tenham a mesma relevância institucional. Como é fácil constatar, qualquer museu ou galeria de Nova York é mais importante que qualquer museu ou galeria do Rio ou de São Paulo e estes são mais importantes do que os de qualquer outra cidade brasileira.
É esse o contexto básico e operacional da instituição da arte. Considerando que expor seu trabalho na melhor galeria ou no melhor museu é aspiração notória, legítima e natural de qualquer artista, entendo que seja nessa moldura que a questão da arte brasileira deva ser situada.
Assim como em qualquer organização humana, a arte é um território fechado. O acesso à condição pública de artista não exige quaisquer requisitos ou procedimentos formais e depende exclusivamente do arbítrio das autoridades institucionais. Como não existem critérios objetivos para o julgamento da obra de arte, a decisão sobre se o trabalho do aspirante tem valor artístico suficiente para ser exposto depende do critério e da preferência de diretores de museu, curadores e donos de galeria. Como o poder legitimador desses profissionais é proporcional ao prestígio dos institutos aos quais estão ligados, a consagração artística pode ser caracterizada como hierarquizada, concêntrica e metropolitana: o reconhecimento de um instituto menor não vale para o âmbito de uma instância mais importante, mas o contrário não é verdadeiro.
Assim, ainda que tenhamos orgulho da arte que produzimos, a presença internacional de um conjunto integrado que possa ser caracterizado como arte brasileira não dependerá exclusivamente da nossa convicção do seu valor, mas do seu reconhecimento pelos centros artísticos internacionais.
Essa é a realidade. Penso que qualquer projeto que não considere isso será mero pensamento desiderativo: algo como pretender o sacerdócio sem a consagração do bispo ou se arrogar um título universitário dispensando o ritual acadêmico. Assim como a extrema devoção ou a extensa erudição não são suficientes para ser padre ou doutor, a genialidade artística só passa a existir quando reconhecida como tal. Não há alternativa. Essa é "o" sistema. Absoluto, único, autônomo, mas não definitivo.
Gerado desde o início do século 20, o atual sistema de consagração veio para substituir a tarefa de deslocamento do centro legitimador de Paris para Nova York, que só viria a se completar nos anos de 1960. Portanto, não se trata de um sistema estático, ainda que lento, e é concebível que venham a suceder outras transformações.
É claro que as barreiras institucionais causam revolta aos jovens aspirantes à carreira artística. Mas é preciso entender que, apesar do processo de seleção ser personalizado, ele não foi instituído pelos respectivos profissionais e é indispensável à existência estrutural de uma instituição. Evidentemente, qualquer pessoa pode se revoltar e praticar uma modalidade artística sem participar do "esquema", mas sua condição artística será apenas virtual, como um jornalista sem jornal ou um advogado sem carteira da OAB.
Para as pessoas mais antenadas, artistas empenhados em carreira internacional, essa realidade é óbvia, mas jamais explícita. A maior parte do público continua acreditando na versão sublimatória do universo artístico difundida pelos livros de teoria e história da arte.
Nesse território de crenças e ilusões, a existência (ou não) de uma arte brasileira é uma questão delicada.
É necessário reconhecer que, a rigor, a arte visual produzida atualmente no Brasil, apesar de exuberante e variada, não exibe, no seu conjunto, peculiaridades intrínsecas que permitam sua diferenciação da arte criada em outros países do mundo e que possibilitem sua qualificação como brasileira. Como acontece em todos os países periféricos, os artistas visuais brasileiros têm percorrido as trilhas abertas pela arte européia e nova-iorquina. As correntes duchampianas, pós-formais e não visuais, atualmente hegemônicas no mundo, são seguidas aqui e não é por acaso que os artistas brasileiros mais cotados no exterior sejam exatamente aqueles que seguem essas tendências.
Será duradoura essa situação? É concebível a hipótese de, algum dia, artistas norte-americanos (ou franceses, ingleses, alemães, italianos) desejarem ser consagrados no Rio ou em São Paulo para deslanchar suas carreiras?


Affonso Romano de Sant'Anna é poeta

A arte brasileira precisa passar por uma revisão crítica urgentemente. Primeiro para ficar caracterizado que se instituiu uma arte oficial, que é chamada de "arte contemporânea", enquanto as demais manifestações foram alijadas da cena. Em segundo lugar, para constatar que essa arte oficial, que até se beneficiou de patrocínio e verbas governamentais, é um apêndice da arte globalizada, a qual começou a ser gerenciada de Nova York por volta dos anos de 1960 e se estabeleceu, graças à hegemonia americana, na Europa e em países periféricos.
Acresce que pouca gente sabe que o globalizado termo "arte contemporânea" não foi criado por um crítico ou teórico, mas pela Christie's, que resolveu, nos anos de 1970, abrir um nicho de mercado depois das vanguardas da primeira metade do século 20. Foi uma jogada de marketing. O termo é infeliz, pois na verdade pretende seqüestrar o sentido de "contemporâneo" e exilar os demais artistas fora do presente, enquanto o que conta realmente na arte é o que resiste ao tempo.
Essa arte deve ser analisada, semiologicamente, sobretudo como "sintoma". Ela diz respeito à sociedade em que vivemos, classificada como "sociedade do espetáculo". É mais show que arte. A mídia tem um papel ambíguo, pois entre divulgar o trabalho de um artista que pesquisa em silêncio e o de outro que propõe happenings ou instalações, ela abre espaço para o que é espetaculoso. Essa "arte dominante", sintoma dos tempos do "pensamento único", regozija-se com o descartável. É a fast-art, o McDonald's artístico, o júbilo do nada, o falso novo que pela improvisação e pretensão atesta um desencontro com o formidável arsenal de recursos que a ciência oferece. A arte brasileira, que se julgava ingenuamente canibal, foi canibalizada pela globalização.
Algumas pessoas têm dito que a partir dos anos de 1940 e 1950 as artes plásticas brasileiras atingiram a maturidade. Não é verdade. O conhecimento do que se faz lá fora demonstra que o que foi assumido aqui dentro (salvo raríssimas exceções) foi o pastiche pós-moderno, o fake, a repetição sem a criatividade dos primeiros modernistas. O fato de meia dúzia de jovens autores "contemporâneos" ter o beneplácito de galerias e museus estrangeiros talvez seja mais porque eles foram incorporados à linguagem dominante, que abre espaço para expandir seus poderes pela periferia.
A crise das artes plásticas, não tendo nenhum paralelo com o que ocorre em outras artes, não é só brasileira. É mais dramática porque é internacional. Por isso, estou propondo (e na medida do possível fazendo e participando com a minha coluna semanal em O globo) uma intervenção multidisciplinar, uma espécie de junta médica que, com o diagnóstico de antropólogos, sociólogos, semiólogos, artistas, psicanalistas, economistas, publicitários, historiadores etc., possa tirar do coma esse doente terminal, que são as "artes contemporâneas".


Daniel Piza é jornalista

As artes plásticas brasileiras sofrem de ciclotimia, como, na verdade, toda a cultura brasileira. Há momentos em que elas parecem estar quase "lá", quem sabe até descobertas pelo mundo, mas pouco depois se vê que não era tudo isso. O último desses momentos foi em meados dos anos de 1990, quando a mídia começou a comprar a versão de que o "item cult" de então era a arte brasileira. Algumas revistas respeitadas no meio, como a Artforum, deram capa para o assunto; galerias como a Camargo Vilaça conseguiram emplacar brasileiros em feiras importantes; mesmo a pintura mais antiga, como a de Tarsila do Amaral, subiu nas cotações de colecionadores. Uma Bienal de São Paulo inteira, por sinal, foi organizada em torno da idéia de "antropofagia", como se o modernismo brasileiro pudesse servir de referência para entender a modernidade.
Mas onde se via uma festa não havia muito mais que a acolhida a alguns penetras. Nomes surgiram e sumiram na mesma velocidade em que a Geração 80 passou de rebeldia a rótulo. Outros foram reduzidos à sua devida dimensão. E, de fato, o que se constatou foi que a turma finissecular tinha menos poder de fogo ainda. Saiu Jac Leirner, entrou Adriana Varejão; morreu Leonilson, despontou Valeska Soares - e a queda foi sentida. Como se não bastasse, mesmo os melhores da geração anterior, aqueles que permaneceram, pareceram entrar num beco minimalista, como se quisessem contrapor a gritaria colorida que os fez famosos a um quase-silêncio: Daniel Senise, por exemplo, optou pelo citacionismo pós-moderno, em prejuízo da força orgânica de suas figuras. Outros artistas abaixo de 45, como Paulo Pasta, Marco Giannotti e Paulo Monteiro, até exageram na discrição.
Estive nas principais bienais internacionais ao longo da década passada e, sinceramente, não vi nenhum artista brasileiro fazer mais que uma boa figura, realmente chamar a atenção dos bons críticos. A arte brasileira nunca esteve mesmo "na moda" entre os círculos de connaisseurs. Um ou outro, como Cildo Meireles e Tunga, pode-se dizer que são nomes com algum prestígio no circuito contemporâneo, mas nada demais. Nem sempre isso é justo, mas estou relatando o fato como ele é. Há um fator especialmente chato nessa apreensão, com o qual, infelizmente, a crítica nacional é conivente: o que ainda se espera da arte brasileira é que seja exótica, extravagante, sensualista; para usar o termo mais abusado, barroca. É como se o samba jamais tivesse direito à bossa nova. Ou seja, as artes plásticas brasileiras ainda têm o tipo de atenção estrangeira que as outras - música, cinema, literatura, arquitetura - recebiam antes dos anos de 1950.
Independentemente do crivo internacional, no entanto, não se pode dizer que as artes plásticas brasileiras sejam irrelevantes ou que estejam numa espécie de declínio geral e irrecuperável. Há alguns artistas brasileiros fazendo um trabalho importante, inclusive com atenção internacional. Nas instalações, por exemplo. Regina Silveira, Amélia Toledo, Waltércio Caldas, Carlos Fajardo e José Resende continuam a produzir obras que atingem essa combinação rara na estética brasileira: rigor e originalidade. Regina Silveira, por exemplo, investiga sombras, faz distorções líricas que mexem com o corpo e a mente do observador; nada tem em comum com a apoteose do "lúdico", com a conversão recente das bienais em parques de (suposta) diversão, mas tem ironia e graça. Outro campo em que o Brasil tem poucos mas bons nomes é o da fotografia. Miguel Rio Branco, por exemplo, traz para o meio uma carga pictórica e narrativa muito forte.
No conjunto, a grande qualidade é haver boa variedade de estilos e conceitos, é justamente não se poder caracterizar a arte brasileira com um rótulo, nem mesmo com uma tendência. Mas faltam grandes pintores, instalações que não pareçam herméticas à maioria das pessoas e mais exceções. Sobretudo, cadê a nova geração? Os citados são todos veteranos, acima de 45 anos. Onde estão seus herdeiros?


Celina Almeida Neves Comunicadora Visual e técnica do Sesc

"Uma frente fria avança lentamente pelo Sul do País e suas instabilidades formam muitas nuvens sobre boa parte da Região... No extremo norte do Brasil chove a qualquer hora do dia e na região Nordeste instabilidades tropicais deixam o céu com muitas nuvens... Nas outras áreas o ar quente ainda predomina e dificulta a formação de nuvens carregadas". 9/06/2002.
Começando a escrever este texto me ocorreu falar sobre o tempo. Sobre as condições climáticas, pois estamos vivendo momentos de mudanças ora tempestivas, ora arrebatadas, ou estamos submetidos ao silêncio e calmarias absolutas. Falar de arte utilizando a metáfora da meteorologia porque, além do futebol que é um tema diário e de preferência nacional, não existe nada mais popular, quase como horóscopo. E, pensar que o interesse pela arte poderia e deveria fazer parte do dia-a-dia das pessoas, enquanto linguagem a ser articulada, dentro da conhecida rotina e preocupação, um desafio e meta a se alcançar. Acessei a internet e busquei o site climatempo.com.br. de onde retirei a idéia central deste texto, relativo a previsão nacional. Havia uma imagem repleta de nuvens, de onde se avistava o Brasil, via satélite (estes grandes olhos que nos observam de outra órbita e nos quais podemos ver ampliada nossa retina). O corpo virtual do território, ali emanado, enquanto alvo e referência de muitos comentários. Na tela do computador, três pontos saltavam em vermelho: Brasília, São Paulo e Porto Alegre. Pensei na morfologia das tantas partes do mesmo todo/continente que nosso olhar estrangeiro pode não alcançar. Na importância de poder amplificar o radar para localizar novos pulsos e fontes. Na necessidade de poder medir e analisar a velocidade do eco... de dentro pra fora.... Assim, como andam as artes no Brasil? São tantas as urgências...mas o clima é ameno e não existem grandes catástrofes naturais (porque destas estamos protegidos?). Falta prioridade. Falta real interesse em aproximações e acesso. Há muito o que fazer para estabelecer pontes e conexões. Como dizem alguns, Deus é brasileiro e criou um território extenso e privilegiado aqui. Transcultural (pois tivemos ritos e mitos, de fundação e passagem, que nos ensinaram a tudo sublimar). O povo é que não ajuda ou falta ajuda para o povo? Que diálogos estabelecer para se ter acesso aos códigos todos, sem dominação, para a leitura das sutilezas dos diferentes sotaques do mesmo idioma, em tempo real, da qualidade do que é outro, sem pasteurização e sem espetacularização da arte e da vida. Se inserir é poder trocar, dar vazão, com turbulências, a participação sugere educação e movimento no sentido duplo, plural.
A produção vai bem, buscando estratégias para sobreviver, entrar em circulação e ter visibilidade. Se há muitas instabilidades tropicais nas políticas econômicas e culturais abaixo da linha do Equador, a estratégia é manual de primeiros socorros no mundo real. Faz parte da cadeia alimentar comer para ser devorado. Engolir e saborear. A digestão é parte integrante e fundamental. Perceber quais os dispositivos acionar para deflagrar processos, reações dentro e fora dos espaços institucionalizados, no cotidiano, formando os hábitos, instrumentalizando e canalizando a energia criadora, são incógnitas desta difícil equação. É interessante constatar a proliferação dos grupos de artistas que têm se organizado, autônomos, além dos espaços e mapas já conhecidos da arte, procurando outra forma e espaço de comunicação. E como o eixo tem se deslocado para longe dos grandes centros, migrando para as periferias. Não há novo fenômeno, só iniciativa. As linhas que separam as fronteiras são imaginárias, oscilam e podem não ser tênues. O que há de público e privado, de individual e coletivo cabe cada vez mais discernir e experimentar, afastados os conflitos e os limites das barreiras. O sistema pode ser binário mas existem inúmeras maneiras de ordenar o zero e o um. Assim como nas demais combinações, tendo em vista as variáveis meteorológicas, os prognósticos são passíveis de erros e acertos. Nem tudo é previsível, o que é melhor. Estamos lidando com outro tipo de força e operando uma mediação, ainda que selvagem seja a natureza... Massa de ar quente cobre a maior parte do Brasil! Retomando a imagem que me levou a esboçar este texto, através da leitura subjetiva dos contornos e do arriscado exercício, nem sempre poético, de endereçar correspondências por mala-direta, termino aqui. Afastando as nuvens e deixando a Terra. Tateando o azul de uma esfera que poderia ser planeta, na tentativa de expandir o plano. Entre diferentes expectativas e repertórios, otimista, gostaria de aproximar a lente e olhar para o próprio umbigo. Além de centro de gravidade ele pode ser ponto de fuga. Vejo o país: um continente pós-colonizado, sem complexo de inferioridade nem ziriguidum. Em síntese, um Brasil que já completou a maioridade e tem onde buscar seu próprio espelho.