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Uma parceria entre o Sesc e a Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto insere a cidade paulista na rota dos festivais internacionais de teatro

Todo espetáculo conterá um elemento físico e objetivo, sensível a todos. Gritos, lamentações, surpresas, golpes teatrais de todo tipo, beleza mágica das roupas feitas segundo certos modelos rituais, deslumbramento da luz, beleza encantatória das vozes, encanto da harmonia, raras notas musicais, cor dos objetos, ritmo físico dos movimentos cujo crescendo e decrescendo acompanharão a pulsação dos movimentos familiares a todos, aparições concretas de objetos novos e surpreendentes, máscaras, bonecos de vários metros, mudanças bruscas da luz, ação física da luz que desperta o calor e o frio." Esse é o ideal expresso por Antonin Artaud (1896-1948), um dos mais importantes pensadores do teatro contemporâneo, em O teatro da crueldade, escrito em meados da década de 1930. No entanto, a passagem poderia muito bem servir a um evento que, de 17 a 28 de julho, ocupará uma importante cidade do interior de São Paulo: o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, que tem na figura do teatrólogo e ator francês sua fonte inspiradora.
Essa será a segunda edição internacional do festival surgido nos tempos difíceis do regime militar brasileiro. Acompanhando o movimento do teatro amador no estado de São Paulo, a cidade abrigou pela primeira vez, em 1969, dezenas de companhias de diferentes pontos do país. "Havia uma efervescência. O interior paulista tinha em média 500 grupos ativos de teatro amador", afirma Humberto Sinibaldi Neto, um dos fundadores do festival. "Com o evento, conseguimos realmente um espaço de contestação. O festival foi muito importante não só no sentido político, mas também para preservar a cultura teatral no país", afirma.
Em 2001, uma parceria estabelecida entre o Sesc São Paulo e a prefeitura municipal de São José do Rio Preto levou o já tradicional evento a ganhar outra dimensão e a conquistar seu espaço no restrito circuito de festivais internacionais de teatro da América Latina. "Historicamente, sua característica principal sempre foi a experimentação", recorda Vitor Hugo Zenezi Longo, gerente adjunto do Sesc Rio Preto e coordenador do festival. "Acreditamos que festivais e mostras devem funcionar como espaço para a experimentação. Queremos que haja confronto, essa é a função do evento: artistas, público e diretores procurando novas informações, novas referências, buscando idéias", define.
Vitor recorda que nos primeiros dias do festival do ano passado a postura ousada da iniciativa fez despertar na população um sentimento de desconfiança, que logo se transformou em orgulho. "Senti que a população estava bastante orgulhosa do festival. Vejo o resultado do nosso trabalho também quanto à formação do público, uma preocupação constante do Sesc São Paulo. Além da tradição do evento e do papel que o Sesc desempenha, um fator que contribuiu para o sucesso do festival é que a população da nossa cidade se interessa e vai ao teatro, o que não é muito comum no Brasil", pondera. "Devido ao sucesso da edição anterior, pudemos ousar mais. As pessoas esperam por isso, não querem algo requentado ou parecido. Estamos apostando ainda mais nessa experimentação", adianta.

Festival 2002
A programação do festival deste ano conta com mais de cem apresentações. Durante doze dias, palcos, ruas, praças e espaços alternativos da cidade serão tomados por artistas de diferentes pontos do país e do mundo.
Entre os destaques da programação internacional, está o belga Jan Fabre, que encenará as aclamadas My Movements Are Alone Like Streetdogs e She Was and She Is, Even, além de lançar a revista Janus, editada por ele, e exibir cinco de seus filmes. Representando a Rússia, o grupo Derevo apresenta o espetáculo Once - Love, Tears and Broken Hearts.
Entre os nacionais, estão: Inutilezas, uma adaptação de Gabriel Braga Nunes e Bianca Ramoneda da obra do escritor Manoel de Barros, sob direção de Moacir Chaves; Biedermann e os Incendiários, dirigido por Georgette Fadel, e Calendário da Pedra, de Denise Stoklos. Estão programados também seis espetáculos para o público infantil, como o teatro de bonecos Cidade Azul, da Cia. Truks, e Cyrano de Berinjela, da companhia carioca Teatro Artesanal.
A programação traz ainda o Núcleo Ariano Suassuna, com cinco peças do escritor paraibano; e Processos, com quatro peças em fase de construção: O Homem e o Cão, de Luis Melo; Woyzeck Desmembrado, com Matheus Nachtergale; Hamlet, com direção de Francisco Medeiros, e Encontro com os Sertões, de Zé Celso.

Umbigo dos limbos
Para atingir efetivamente a proposta de experimentação e por à prova todo o potencial do teatro para sensibilizar o público, os organizadores emprestaram o vigor e o alcance dos pensamentos de Antonin Artaud. "Artaud foi a inspiração", afirma Flávia Carvalho, técnica do Sesc Rio Preto e produtora executiva do festival. "O escolhemos pela sua postura e sua contribuição ao teatro; por ele representar um pensamento tão contemporâneo como o de o teatro ultrapassar os limites do palco e tocar as pessoas", explica. "Achamos que seria interessante abordar também a loucura, que é uma imagem diretamente associada a ele. Então, organizamos mesas-redondas sobre o tema e uma exposição apresentando os trabalhos do Museu do Inconsciente e do Museu do Bispo do Rosário, ambos do Rio de Janeiro. Além disso, decidimos homenagear, com uma exposição fotográfica, um dos maiores intérpretes brasileiros de Artaud, o ator Rubens Corrêa, falecido em 1996", conta Flávia.
É Artaud, também, que dá nome a um dos espaços-símbolos do festival, o lugarUMBIGO - uma referência ao texto "l'Ombilic des Limbes" (O umbigo dos limbos), escrito em 1925. Trata-se de uma grande casa que abrigará, em apresentações de quinze minutos, sobre pequenos palcos ao ar livre, performances e interferências de artistas como Rodrigo Matheus, Stephane Brodt e integrantes do Circo Mínimo e da companhia russa Derevo. "Essa proposta é muito interessante", afirma a diretora Márcia Abujamra, que dirige a performance Van Gogh, o Suicidado da Sociedade, com Pascoal da Conceição. "Ter um palco e um tempo definidos para as apresentações faz o público lidar mais diretamente com o ator, com o performer", afirma.
Depois das apresentações, a casa será o local de uma grande festa, com espetáculos de músicos como Pedro Luís e Parede e Monobloco, além de DJs como Luluta, Rafael Nunes e Lúcio Ka. "Esse é um espaço de confraternização", retoma Vitor Longo. "É importante haver um local como esse para que as pessoas possam se reunir. Se não promovermos um encontro entre atores, diretores, público da cidade e de fora, perdemos a oportunidade de possibilitar trocas em um contexto diferente", justifica.

Preto Artaud
Além do espetáculo que dirige no lugarUMBIGO, Márcia Abujamra supervisiona uma das novidades do festival deste ano, o projeto Preto Artaud. São mais de setenta artistas de catorze grupos amadores de Rio Preto que desenvolverão performances com textos de Antonin Artaud em diversos pontos da cidade. "Para muitos atores, essa é a primeira vez que eles estão, de fato, diante de Artaud. O mais interessante é que eles alcançaram uma noção clara de processo (onde começa, por onde passa, o que se pode transformar) para, a partir desse ponto, desenvolver seus trabalhos. Muitos tinham idéias bastante criativas, mas não sabiam como passá-las para o palco. Então tentamos, juntos, encontrar a melhor tradução cênica para o que eles queriam: isso é processo de ensaio, de trabalho. O teatro é fundamentalmente isso."
Márcia destaca ainda o caráter inovador da proposta. "É a primeira vez que vejo uma iniciativa como essa. O que se vê, em geral, são workshops e cursos no período dos festivais. A idéia de um profissional acompanhar de fato os grupos locais desde o início do trabalho me parece inédita e muito satisfatória. Acho que para eles foi bem interessante. Para mim está sendo maravilhoso", conclui.

THE FIELD - Strange Fruit, Austrália. 17/07 - Anfiteatro da Represa Municipal, 20h30; 18/07 - Praça Poli Esportiva Caic Cristo Rei, 16h30; 19/07 - Praça Cívica, 16h30; 20/07 - Estacionamento do Centro Regional de Eventos, 16h30

AUTO DO ESTUDANTE QUE SE VENDEU AO DIABO - Grupo Grial, PE - Núcleo Ariano Suassuna. 18/07 - Praça Rui Barbosa, 11h00; 19/07 - Praça dos Pinheirinhos, 11h00

BANQUETE - Boa Companhia, SP. 18/07 - Circo, 19h00; 19/07 - Circo, 19h00

O CARRASCO - Amok Teatro, RJ. 18/07 - Ginásio Sesc, 19h00; 19/07 - Ginásio Sesc, 19h00

SHE WAS AND SHE IS, EVEN - Jan Fabre, Bélgica. 18/07 - Teatro Sesc, 21h00; 19/07 - Teatro Sesc, 21h00; 20/07 - Teatro Sesc, 21h00

O HOMEM E O CÃO - Ateliê de Criação Teatral, PR - Processos. 18/07 - Teatro Municipal, 21h00

ENCONTRO COM OS SERTÕES - Oficina Uzyna Uzona, SP - Processos. 19/07 - Teatro Municipal, 21h00

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS - Grupo Gesto (APAE - Rio Preto). 19/07 - Teatro Santo André, 11h00 e 15h00

NAVELOUCA - Grande Cia Brasileira de Mystérios e Novidades, SP. 19/07 - Anfiteatro da Represa Municipal, 18h00; 21/07 - Anfiteatro da Represa Municipal, 18h00

A LA CARTE - La Mínima, SP. 20/07 - Teatro Santo André, 11h00 e 15h00

A FARSA DA BOA PREGUIÇA - Confraria da Paixão, RJ. 20/07 - Praça Rui Barbosa, 11h00; 21/07 - Praça do Teatro Municipal, 11h00
OS CAMARADAS - Cia Carona de Teatro, SC. 20/07 - Circo, 19h00; 21/07 - Circo, 19h00

WOYZECK DESMEMBRADO - Matheus Nachtergale, RJ - Processos. 20/07 - Teatro Municipal, 21h00

CARTAS DE RODEZ - Amok Teatro, RJ. 20/07 - Ginásio Sesc, 19h00; 21/07 - Ginásio Sesc, 19h00

HAMLET - direção de Francisco Medeiros, SP - Processos. 21/07 - Teatro Municipal, 21h00

HYSTERIA - Grupo XIX de Teatro, SP. 22/07 - Clube do Lago, 16h00; 23/07 - Clube do Lago, 16h00

MY MOVEMENTS ARE ALONE LIKE STREETDOGS - Jan Fabre, Bélgica. 22/07 - Teatro Sesc, 21h00; 23/07 - Teatro Sesc, 21h00; 24/07 - Teatro Sesc, 21h00

AUTO DO NOVILHO FURTADO - Cia. Pop de Teatro Clássico, RJ - Núcleo Ariano Suassuna. 23/07 - Praça Rui Barbosa, 11h00; 24/07 - Praça Bairro São Francisco, 11h00

O TAO DO MUNDO - Grande Cia Brasileira de Mystérios e Novidades, SP. 23/07 - Anfiteatro da Represa, 18h00; 24/07 - Anfiteatro da Represa, 18h00

GRAVIDADE ZERO - Circo Mínimo, SP. 23/07 - Circo, 18h00; 24/07 - Circo, 18h00

BISPO - de Edgard Navarro, BA. 23/07 - Ginásio Sesc, 19h00; 24/07 - Ginásio Sesc, 19h00

ONCE - LOVE, TEARS AND BROKEN HEARTS - Derevo, Rússia. 23/07 - Teatro Municipal, 21h00; 24/07 - Teatro Municipal, 21h00

A LUZ DOS OLHOS MEUS - Cia. Abacirco, SP. 25/07 - Circo, 19h00; 26/07 - Circo, 19h00

CYRANO DE BERINJELA - Cia. de Teatro Artesanal, RJ. 25/07 - Teatro Santo André, 11h00 e 15h00

INUTILEZAS - direção de Moacir Chaves, RJ. 25/07 - Teatro Sesc, 21h00; 26/07 - Teatro Sesc, 21h00

MEU DESTINO É PECAR - Cia. dos Atores, RJ. 25/07 - Teatro Municipal, 21h00; 26/07 - Teatro Municipal, 21h00

AUTO DA COMPADECIDA - Grupo Velho é a Vovozinha - Terceira Idade do Sesc Rio Preto - Núcleo Ariano Suassuna. 26/07 - Teatro Santo André, 11h00 e 15h00

A PRINCESA JIA - As Meninas do Conto, SP. 27/07 - Teatro Santo André, 11h00 e 15h00

O SANTO E A PORCA - Cia. Teatro Medieval, RJ - Núcleo Ariano Suassuna. 26/07 - Clube do Lago, 16h00; 28/07 - Clube do Lago, 16h00

SANGUE BOM - Sobrevento, RJ. 27/07 - Circo, 19h00; 28/07 - Circo, 19h00

BIEDERMANN E OS INCENDIÁRIOS - Cia. São Jorge de Variedades, SP. 27/07 - Ginásio Sesc, 19h00; 28/07 - Ginásio Sesc, 19h00

O FALCÃO E O IMPERADOR - com Jac Fagundes e Letícia Spiller, RJ. 27/07 - Teatro Municipal, 21h00; 28/07 - Teatro Municipal, 21h00

O CALENDÁRIO DA PEDRA - de Denise Stoklos, SP. 27/07 - Teatro Sesc, 21h00

CIDADE AZUL - Cia. Truks, SP. 28/07 - Teatro Santo André, 11h00 e 15h00

DNA - Associação de Teatro Radicais Livres, CE. 28/07 -Teatro Sesc, 21h00