Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Exposição
Uma caça ao tesouro

Exposição mapeia as estátuas de Diana Caçadora espalhadas por São Paulo

Situada na Rua Bom Pastor, esquina com a Rua dos Patriotas, no bairro do Ipiranga, a casa onde residia a família Jafet teve seu jardim projetado pelo modernista John Graz, na década de 1930. Como parte da composição de um espelho d'água, encontrava-se ali, na época, uma estátua da deusa Diana, a caçadora.
A casa foi adquirida pelo Sesc no final da década de 1980 e demolida para que se iniciasse a construção da unidade Ipiranga, inaugurada em 1992. Por conta disso, a escultura foi removida e permaneceu até então em preservação em outra unidade do Sesc Sã Paulo.
As comemorações dos 80 anos da Semana de Arte Moderna, em 2002, evento do qual participou John Graz, trouxeram Diana de volta a seu jardim, onde será instalada definitivamente e exposta à apreciação. "Muito do patrimônio estabelecido em ruas, praças e outros locais de São Paulo fora dos museus carece não somente de conservação, mas, principalmente, de reconhecimento", justifica Denise Bernuzzi de Sant'Anna, professora de História da Puc-SP. Reconhecimento este que, ainda segundo a professora, tem por base uma noção de compromisso que deve partir do cidadão em relação à cidade.
A reinauguração da escultura, que acontecerá no dia 25 de janeiro, promoveu também um levantamento de outras estátuas da deusa na cidade de São Paulo. O resultado poderá ser descoberto pelo público nos jardins do Sesc Ipiranga, que colocará em exposição representações fotográficas das outras seis esculturas que podem ser encontradas em diversos lugares da cidade. A pesquisa, realizada pela Casa da História, rendeu ainda a publicação de um abrangente catálogo que, além de apresentar as estátuas, envolve temas pertinentes como patrimônio cultural e, claro, o mito da deusa.
Para Sérgio José da Silva, um dos pesquisadores, esta é uma forma de reapresentar à cidade os seus patrimônios. "As pessoas estão acostumadas a andar por São Paulo sem prestar atenção aos diversos monumentos e obras de arte que nela estão espalhados, enquanto que, quando se fala das obras que estão no Louvre, por exemplo, parece que a obra adquire uma aura de respeito maior", diz Sérgio. A condição dessas obras, além de expostas, podendo ser agredida ou bem acolhida, ou recebendo apenas a pura indiferença dos moradores e passantes, ganha, segundo Denise, "densidade histórica, funcionando de maneiras antes impensáveis, referenciando trajetórias e participando do fluxo urbano. Em outras palavras, a obra é colocada em ação".

Os Jardins de Diana
Assim como os deuses gregos foram integrados no imaginário de inúmeras civilizações antigas, principalmente na civilização romana, o mito de Diana serviu de inspiração para artistas de diversas épocas e escolas.
Em São Paulo é possível encontrar exemplares que vão desde a cópia de uma estátua em bronze do original pertencente ao Museu do Louvre, Paris, confeccionada por Jean-Antoine Houdon, entre os anos de 1777/1790, até um exemplar em mármore do século 5, que já viajou pela Itália e Inglaterra antes de chegar ao Brasil.
A grande diferença entre elas vai além da liberdade de criação dos autores e suas épocas. A primeira foi "adotada" por Pietro Maria Bardi em 1947 e hoje encontra-se no Instituto Lina Bo e P.M. Bardi junto com outras obras do acervo particular do casal.
A segunda está localizada na Praça do Correio, no centro da cidade. O original em bronze, pertencente ao Museu do Louvre, foi copiado e fundido pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e implantada na Praça do Correio na gestão do prefeito Prestes Maia, entre 1940 a 1945. Com a reurbanização do Vale do Anhangabaú, a escultura ganhou nova colocação, em meio a um jardim. Mas, vivendo em um núcleo tão agitado e estando constantemente exposta à "intervenções" variadas, pode-se dizer que a Diana de Houdon aproxima-se de um modelo da Vênus de Milo dos anos de 1990: falta-lhe um braço e seu corpo está totalmente "tatuado". Certamente, os mortais dos dias de hoje, em especial os responsáveis por esse tipo de vandalismo e mesmo descaso às obras, desconhecem a fúria de Júpiter, pai da incansável Diana. Em meio ao frescor de jardins mais calmos, as estátuas do Parque da Luz e a do jardim das Esculturas do MAM, no Parque do Ibirapuera, apresentam estados de conservação um pouco melhores. As outras duas estátuas podem ser vistas bem preservadas no Hall do Teatro Municipal, no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e no Liceu de Artes e Ofícios, cuja cópia está no Parque da Luz.
Para a professora Denise, Diana teria, talvez, alguma coisa a ensinar. "Não somente para os que cultuam o seu mito no passado", diz ela, "mas para aqueles que tentam religar o passado de nossos antigos caçadores à possibilidade de construir um futuro à esta São Paulo do terceiro milênio".