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Em artigo inédito, o maestro Diogo Pacheco, que participou do projeto Divina Caffé, comenta a questão da difusão da música clássica no País e a formação dos instrumentistas brasileiros

Gostei muito de participar com o Divina Caffé do programa de conferências sobre música realizadas no Sesc-SP em quatro oportunidades. Considero-me especialista nessa área. Explico: já regi mais de mil concertos ao ar livre, com orquestra sinfônica; trabalhei durante 18 anos na Rádio Eldorado num programa apenas de música clássica e apresentei na Rede Globo e na TV Cultura centenas de programas do gênero. Sempre fazendo comentários leves, explicando a música e seus autores.
Quando me perguntam se o brasileiro gosta de música clássica, digo que só poderei responder essa pergunta quando o brasileiro souber o que é música clássica. As televisões não divulgam, as rádios não tocam e os concertos realizados em teatros são quase sempre inacessíveis ao grande público. Sempre me emociono quando sou parado na rua, até por mendigos, que me dizem: "que bonita aquela música que o senhor toca de madrugada na TV". Ou quando dou autógrafos no meio da rua.
A boa música sempre atinge a sensibilidade das pessoas, mesmo que elas não tenham grande contato com ela. Acredito piamente nisso. O problema no Brasil também é a falta de boas escolas de música. A maior parte dos músicos brasileiros que fizeram carreira internacional estudou fora. Cito sempre o exemplo do teatro brasileiro como comparação. Na época do TBC, de Franco Zampari, contratava-se know-how no exterior. Na época, vieram ao Brasil Ziembinsky, Aldolfo Celi, Gianni Ratto, Ruggero Jacobi e tantos outros homens de teatro que fizeram nossos Antunes Filho, Flávio Rangel, Cacilda Becker, Sérgio Cardoso, Paulo Autran, Raul Cortez...
Sempre achei que, melhor do que dar bolsas de estudos aos nossos talentos para estudarem fora, seria contratar bons professores que viessem para cá de modo a formar bons músicos. Com as bolsas de estudo concedidas, se o aluno for realmente bom, provavelmente não voltará ao Brasil. Se bons professores ficassem aqui, descobririam talentos que formariam nossas orquestras, conjuntos instrumentais e até o público que freqüentaria nossos teatros.
Sempre que tenho uma oportunidade como a que o Sesc me proporcionou, aceito com grande prazer, porque acho que estou contribuindo para o desenvolvimento cultural do brasileiro, tão pobre neste tipo de atividades.