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Conheça os livros-reportagem preferidos da Eliane Brum

Foto: Lilo Clareto
Foto: Lilo Clareto

A jornalista contou pra gente quais suas obras favoritas desse gênero literário, em que o autor narra uma detalhada e extensa reportagem que não seria suportada pelas mídias convencionais do jornalismo, como jornais e revistas.

No dia 22/8, Eliane estará no Sesc Avenida Paulista para bater um papo com Leonardo Sakamoto sobre suas experiências profissionais e a influência da mídia e do jornalismo na formação dos jovens.

Nascida em Ijuí-RS, é jornalista, escritora e documentarista. Desde 2010, atua como freelancer e faz projetos de longo prazo com populações tradicionais da Amazônia e das periferias da Grande São Paulo. Publicou seis livros – cinco de não ficção e um romance -, além de participar de coletâneas de crônicas, contos e ensaios.


Confira a lista:


1- Amor & Capital, de Mary Gabriel 

A biógrafa Mary Gabriel faz um mergulho profundo numa faceta pouco estudada da vida de Karl Marx: o lado humano e familiar do homem cujas obras redefiniram o mundo.

Aliando o contexto histórico-político da Europa do séc. XIX, a autora revela aspectos da vida pessoal, como a influência de Jenny von Westphalen, que se casou com Marx quando ele ainda era apenas um jovem promissor. Ao longo de décadas de luta, o amor de Jenny por Karl seria sempre testado, enquanto ela esperava que o marido terminasse sua obra-prima, "O capital". A narrativa se estende ao longo de décadas por Londres, Paris, Bruxelas e Berlim, revela as sementes das revoluções e do amor que uniu um homem e uma mulher no meio do turbilhão da história.


2- Eichmann em Jerusalém (Hannah Arendt)

Em 1960, sequestrado num subúrbio de Buenos Aires por um comando israelense, Adolf Eichmann é levado para Jerusalém, para o que deveria ser o maior julgamento de um carrasco nazista depois do tribunal de Nuremberg. Mas, durante o processo, em vez do monstro sanguinário que todos esperavam ver, surge um funcionário medíocre, um arrivista incapaz de refletir sobre seus atos ou de fugir aos clichês burocráticos. É justamente aí que o olhar lúcido de Hannah Arendt descobre a ´banalidade do mal´, ameaça maior às sociedades democráticas. Numa mescla brilhante de jornalismo político e reflexão filosófica, Arendt investiga questões sempre atuais, como a capacidade do Estado de transformar o exercício da violência homicida em mero cumprimento de metas e organogramas.

3- Elogiemos os homens ilustres (James Rufus Agee e Walker Evans)

Para uma grande reportagem da revista Fortune, o escritor e jornalista James Agee e o fotógrafo Walker Evans aprofundaram-se no sul dos Estados Unidos, em 1936, com o objetivo de retratar os efeitos da Grande Depressão que assolava o país. Durante quatro semanas, conviveram com três famílias de meeiros pobres do Alabama, numa relação tão próxima que chegaram a dormir na choupana de uma delas. O resultado dessa experiência extrapolou largamente os limites do que era conhecido como boa reportagem, e a matéria nunca chegou a ser publicada na imprensa. Ao longo dos anos seguintes, Agee reformulou o texto e o deixou ainda mais pessoal e refinado. Publicado em livro, em 1941, a aventura de Agee e Evans tornou-se desde então referência obrigatória para os estudos de jornalismo, literatura e antropologia.

 

4- Hiroshima (John Hersey)

A bomba atômica matou 100 mil pessoas na cidade japonesa de Hiroshima, em agosto de 1945. Naquele dia, depois de um clarão silencioso, uma torre de poeira e fragmentos de fissão se ergueram no céu, deixando cair gotas imensas - do tamanho de bolas de gude - da pavorosa mistura. Um ano depois, a reportagem de John Hersey reconstituía o dia da explosão a partir do depoimento de seis sobreviventes. O texto tomou a edição inteira da revista The New Yorker, uma das mais importantes publicações semanais dos Estados Unidos. O trabalho de repórter alcançou uma repercussão extraordinária. Sua investigação aliava o rigor da informação jornalística à qualidade de um texto literário. 

 

5- Holocausto Brasileiro (Daniela Arbex) 

Durante décadas, milhares de pacientes foram internados à força, sem diagnóstico de doença mental, num enorme hospício na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. Ali foram torturados, violentados e mortos sem que ninguém se importasse com seu destino.  Ninguém ouvia seus gritos. Jornalistas famosos, nos anos 60 e 70, fizeram reportagens denunciando os maus tratos. Nenhum deles — como faz agora Daniela Arbex — conseguiu contar a história completa. O que se praticou no Hospício de Barbacena foi um genocídio, com 60 mil mortes. Um holocausto praticado pelo Estado, com a conivência de médicos, funcionários e da população.


6- O anjo pornográfico (Ruy Castro)

A vida de Nelson Rodrigues (1912-1980) foi mais espantosa do que qualquer uma de suas histórias. E olhe que ele escreveu peças como 'Vestido de noiva' e 'Boca de Ouro', romances como 'Asfalto Selvagem' e 'O Casamento' e os milhares de contos de 'A vida como ela é...'. Mas foi de sua vida - e da vida de sua trágica família - que Nelson Rodrigues extraiu a sua obsessão pelo sexo e pela morte. Gênio ou louco? Tarado ou santo? Reacioário ou revolucionário? Nenhum outro escritor brasileiro foi tão polêmico em seu tempo. Para escrever O Anjo Pornográfico, Ruy Castro realizou centenas de entrevistas com pessoas que conheceram intimamente Nelson Rodrigues e sua família. Elas o ajudaram a reconstituir essa assombrosa história, capaz de arrancar risos e lágrimas.


7- Na natureza selvagem (Jon Krakauer)

Depois de terminar a faculdade com brilhantismo, Chris McCandless, jovem americano saudável e de família rica, doa todo o dinheiro que tem, abandona o carro e a maioria de seus pertences, adota outro nome e some na estrada, sem nunca mais dar notícias aos pais. Dois anos depois, aparece morto num lugar ermo e gelado do Alasca. Por onde andou, o que buscava, por que morreu? Quem era realmente Chris McCandless? Para responder a essas perguntas, Krakauer refaz a longa saga do aventureiro até seu triste desenlace. Uma história verdadeira, mas com todos os ingredientes de um romance de ficção.