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Um dia de jazz, para quem não ouve jazz

Foto: Pixabay
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Por Danilo Lima*

Não sou crítico musical.
Fiz um mês de flauta na quarta série, um ano de teclado na adolescência (que só serviram para eu aprender a tocar Carruagem de Fogo e deixar minha mãe feliz) e depois de adulto tentei por duas aprender violão mas acabei desistindo.
Como podem perceber, também não sou músico.
Nas minhas playlists posso dizer que tem de tudo um pouco: muito Foo Fighters, Charlie Brown Jr (sim, eu vim de Santos), sertanejo e samba para aqueles dias pré-festa. Mas uma coisa que não tenho é jazz.
Portanto este texto é para você, que conhece o gênero tanto quanto eu.

Aproveitando o clima que o Sesc Jazz trouxe ao Sesc Araraquara, me desafiaram a experimentar um estilo musical que não conheço, não escuto e realmente não sei o que esperar. Para não ficar muito perdido, o caminho foi seguir a playlist Só Jazz não basta, que reúne variações jazzísticas do mundo todo, e que, imagino, seja uma boa maneira de começar.
Coloque o seu fone de ouvido e venha acompanhar o meu dia musical.

12h35
Hora de sair para o trabalho.
Costumo ouvir música quase o tempo todo, mas na minha caminhada rumo ao trabalho é tão religioso colocar o aplicativo de música, quanto as pessoas gritarem "Toca Raul!" em show de banda cover.
Céu nublado, vento no rosto, pessoas passeando com os cachorros, parece que vai chover. Batidas meio "tribais" e trompete ecoam no meus ouvidos. Ahayu-Da, de Don Cherry é a música da vez.
Sinto um tom de suspense, por não saber qual o próximo instrumento que me será apresentado e pela dúvida se corro ou não evitando me molhar.
Os carros passam acelerados, ao mesmo tempo que a bateria ganha agilidade, o piano fica mais forte.
É Interessante como me parece que cada instrumento tem o seu momento de destaque. Juntos, mas cada um com seu tempo de brilhar.

Perto da chegada, outro som.
Uma linda voz feminina surpreende meus ouvidos, quase um sussurro.
Olha! É dueto! Surge uma voz masculina mais "agressiva", fazendo um belo contraponto.
Cheguei, hora de dar pause e passar o cartão.
Antes disso, clico em salvar Somi - The Gentry nos favoritos.

18h30
Como podem perceber,  o dia foi corrido. E a trilha sonora nesse tempo foram as vozes dos meus companheiros de trabalho.
É hora de parar e comer alguma coisa. Não choveu mas esfriou, e abaixo de 21 graus por aqui é motivo de agasalho e sopa.
Sopa no nosso idioma é sinônimo de algo fácil. E para mim que tentei a todo custo (ok, não me esforcei tanto assim) tocar violão, imagino que esse dedilhar de Juan Gómez Chicuelo, na música Al Sol, não deve ter sido moleza.
Até o momento a música que me soou mais familiar. Deve ser pelo nossos grandes violeiros, mas me remeteu muito a nossa MPB.
Estou gostando do tempero! Da música e do meu jantar.

Estava preocupado no que escrever quando eu não gostasse de uma das tocadas. Na verdade eu tinha certeza que não gostaria de nenhuma.
E me vem essa porrada! Essa nem entrou para lista de favoritas, foi para playlist de corrida.
Não imaginava que fosse associar esse gênero musical a prática esportiva.
Experimentem! Jizue - Rain Dog.

A tranquilidade da voz de Amira Kheir, em Ya Mara, juntamente com um violão (que mais uma vez me lembra o nosso som), me fazem baixar a rotação que acelerou na música anterior.
É... acabei escrevendo isso antes da música terminar. Agora ela está mais nervosa.
Será que no jazz é sempre assim? Momentos de calmaria e de fúria?
Bom, a vida é assim com certeza. Hora de terminar a minha calmaria e voltar para o trabalho.

22h
Hora de colocar o volume no máximo e retornar para casa.
Logo nos primeiros acordes me sinto dentro do filme Whiplash (recomendo) e o baterista desta banda me faz ter vontade de aprender o instrumento. Apesar de me parecer que o trompete é a estrela do momento.
Tive contato com vários instrumentos, mas bateria é o que sempre tive vontade de aprender mesmo e nunca tive coragem. Talvez seja um próximo desafio a encarar.
Chegando em casa preciso descobrir o nome desse cara.
Bom, vocês não precisam esperar. O italiano, Stefano Bagnoli é o baterista da Paolo Fresu Devil Quartet.

Por volta dos 3 minutos da música Voci Oltre, me aparece um som meio eletrônico que não me agrada.
Vou aproveitar minha parada no posto de gasolina e passar para próxima música assim que continuar minha caminhada.
Dessa vez a trilha é mais tranquila e é engraçado como o som ambiente faz toda diferença.
É o mesmo trajeto que fiz pela manhã e faço todos os dias. Mas agora a concentração é outra com os novos estímulos auditivos.
Engraçado, essa me lembra muito reggae. Um ritmo mais lento, o som da guitarra até passaria por uma boa música baiana, e com essa percussão então!
Cheguei em casa e já logo fui procurar. A Kokoroko se define como uma banda Afrobeat + Highlife. Olha, eu não estava tão errado assim. Ouça Abusey Junction e veja se concorda comigo.
Por hoje chega. Gostei muito de descobrir que existem vários tipos de jazz, confesso que não fazia ideia de toda essa diversidade. Curioso que sou, vou tentar descobrir um pouco mais sobre essas bandas que adicionei nas minhas playlists.

Bom, nas minhas playlists, posso dizer que tem de tudo um pouco: rock, pop, samba, sertanejo e...jazz.

*Danilo Lima é editor web no Sesc Araraquara.