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Com quantas notas se faz uma boa canção?

REVISTA E - Julho 2006

 

 






A diversidade da composição musical brasileira assegura o alto nível da MPB

O sucesso da música popular brasileira guarda alguns segredos. Da mistura de ritmos às diferentes gerações de intérpretes femininas, de Elis Regina à novíssima Ceu, passando por Marisa Monte e Vanessa da Mata. Não se pode esquecer dos músicos, claro, uma seara que tem professores como Paulo Moura e Nana Vasconcelos. Mas boa música cantada e tocada é fruto da boa composição. Noel Rosa, Radamés Gnattali, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Tom Jobim (veja boxe Os inesquecíveis). Os nomes e os estilos são muitos e, a julgar pela quantidade de inscrições nos festivais que procuram revelar talentos - um bom exemplo disso é o Prêmio Visa (veja boxe Um brinde à música brasileira) -, a fonte não vai secar tão cedo. "Há diversidades se manifestando nos diferentes espaços oferecidos", afirma o músico e compositor Luiz Tatit. "Existe um número expressivo de bons compositores e intérpretes já desenvolvendo a carreira independentemente da atenção da mídia." Para o músico, sobretudo com as novas possibilidades de produção e divulgação que a internet oferece, pode-se esperar uma produção cada vez mais abundante. "Nunca a música esteve tão bem servida de criadores", observa.



O compositor, intérprete, violonista e arranjador Celso Viáfora nem se arrisca a fazer uma lista dos nomes mais quentes do atual cenário de compositores no Brasil. Segundo ele, seria impossível fazer uma lista completa. "Prefiro não fazer para não ser injusto. E fico feliz da vida por saber que somos um povo tão musical."




Linhagem de primeira

Diferentes estilos de compor formam o cenário. Há os que se debruçam sobre a criação das letras e os que preferem explorar o universo das notas, arranjos e harmonias. Em comum, uma familiaridade com a música que se manifesta quase sempre desde muito cedo, o que traduz um pouco o que Viáfora chamou de "povo tão musical". Um bom exemplo é o de Dante Ozzetti, vencedor da 3ª edição do Prêmio Visa, realizada em 2000, na categoria compositores. O músico começou a se interessar pelo assunto aos 9 anos e lembra os primeiros passos. "Quando a gente começa a estudar música, as composições passam a ficar muito parecidas", conta. "Isso dá a sensação de falta de criatividade, daí vem um questionamento natural. Mas, com o passar do tempo, o conhecimento se torna naturalmente parte do processo criativo, aí chega o momento em que é necessário retomar o ímpeto da liberdade e o reencontro com a imaginação." Já Chico Pinheiro, que ficou em segundo lugar no festival de 2000, conta que sua maior fonte de inspiração são os grandes clássicos europeus: Frédéric Chopin, Claude Debussy, Maurice Ravel e Tchaikovsky. "Compositores irretocáveis", avalia. "Sabiam demais seu ofício." Quando se trata dos mais contemporâneos, Pinheiro vira a antena na direção do norte-americano George Gershwin e dos brasileiros Tom Jobim, Edu Lobo e Moacir Santos. "Profundamente técnicos, mas também muito intuitivos, são craques." Celso Viáfora conta que começou a compor "por brincadeira" e que só depois de estar com o trabalho mais estruturado - já tendo participado de festivais e com alguns shows no currículo - é que sentiu a necessidade de se dedicar ao estudo formal da música. "Mas, mesmo depois de tudo isso, olho para mim mesmo e vejo que continuo compondo por prazer", diz o músico. "Claro que me tornei muito mais autocrítico, cuidadoso, quase chato - a ponto de demorar um ano para terminar um verso, como já aconteceu uma vez -, mas crio por prazer, movido ainda pela emoção."



Independentemente do caminho escolhido, o toque especial do compositor brasileiro continua fazendo da MPB - termo que vem abrangendo cada vez mais ritmos e experimentações - um capítulo à parte na cultura nacional. "Os bons compositores são aqueles que instigam a linguagem da composição, desde os que se utilizam dos recursos tradicionais aos que se apropriam da tecnologia com inteligência", conclui Dante Ozzetti.


 

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Um brinde à música brasileira

Em sua nona edição, o Prêmio Visa de Música Brasileira, que neste ano bateu recorde de inscrições, terá eliminatórias no Sesc Vila Mariana

O primeiro Prêmio Visa de Música Brasileira aconteceu em 1998, quando ainda se chamava Prêmio Visa de MPB, nome que permaneceu até 2002. Em sua primeira edição, o prêmio contemplou a categoria instrumental, na segunda, a categoria vocal e, na terceira, a de compositores. E, assim, as categorias instrumental, vocal e compositores se repetem a cada ano até hoje. De julho a outubro, será realizada a nona edição do evento, que em 2006 é disputado na categoria compositores, com uma marca histórica: bateu todos os recordes, com 3.255 inscrições, totalizando 13.020 músicas. Em relação à última edição dedicada aos compositores, houve um acréscimo de 13% no número de inscritos. Apesar de ter adquirido esse formato somente em 1998, os embriões do prêmio começaram a formar-se ainda nos anos 80, mais precisamente em 1985. Nessa época, a Rádio Eldorado, de São Paulo, tinha um prêmio de música erudita, o Prêmio Eldorado de Música (PEM). Em meados de 1987, João Lara Mesquita, diretor da rádio, e o maestro Nelson Ayres decidiram criar um prêmio de música popular brasileira nos mesmos moldes do PEM. Isso significava apresentações dos candidatos, jurados de alta competência e boa premiação. Em 1998, o evento ganhou novos parceiros, chegando ao formato que conhecemos hoje. De lá para cá, nomes que vêm se firmando no cenário musical brasileiro, como Mônica Salmaso, Dante Ozzetti, Yamandú Costa, Chico Saraiva, André Mehmari e Célio Barros, passaram pelo palco do Prêmio Visa.



Para a inscrição é necessário que cada candidato encaminhe quatro músicas ao Prêmio Visa, que as passará a um júri. Do crivo dessa bancada são selecionados 24 candidatos e três suplentes. As primeiras apresentações acontecem durante as seis eliminatórias, que desde o ano passado são realizadas no Sesc Vila Mariana. Doze pessoas disputam as semifinais, também realizadas na unidade. Nessa etapa, há mais quatro apresentações, das quais saem os cinco finalistas. Na última fase, cada músico apresenta três composições. Pelo menos uma delas não pode ter sido exibida nem nas eliminatórias nem nas semifinais. O felizardo que ficar em primeiro lugar, levará neste ano um prêmio em dinheiro no valor de R$ 110 mil e mais a gravação de um cd pelo selo Eldorado. Quem ficar em segundo será premiado com R$ 50 mil. O terceiro colocado receberá R$ 30 mil e os outros dois, levarão R$ 5 mil. Entre os nomes selecionados, estão alguns já conhecidos do público. Um deles é André Abujamra, líder da banda Karnak e responsável pela trilha sonora de filmes brasileiros como Bicho de Sete Cabeças (2000) e Carandiru (2002). Outra presença ilustre entre os selecionados para o 9º Prêmio Visa será a do compositor João Donato. Figura relevante no cenário musical carioca dos anos 50 e depois arranjador respeitado pelo time de estrelas da MPB, ele já participou de discos de Gal Costa e Gilberto Gil e teve uma importante parceria com João Gilberto.


 

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Os inesquecíveis


Os festivais de música dos anos 60, que revelaram nomes como Milton Nascimento, Chico Buarque e Elis Regina, mobilizavam até torcidas organizadas


Não é de hoje que festivais de música mobilizam público e músicos. O primeiro, ávido por novidades. O segundo, por oportunidades para mostrar seu trabalho. Fazem parte da memória dos anos 60 no Brasil os episódios que marcaram os concorridos festivais de música. Muita gente de peso que está aí até hoje subiu anônima, ou quase, ao palco de muitas competições até alcançar sucesso consistente. O auge desse tipo de evento foi entre 1965 e 1968 - na época havia até torcida organizada.


O Festival de Música Popular da TV Record e o Festival Internacional da Canção, o FIC, foram os de maior visibilidade. A primeira premiação memorável aconteceu em 1965 no 1º Festival de Música Popular Brasileira - a grande vencedora foi Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, interpretada por Elis Regina. "Esse foi um momento muito feliz da música brasileira, mas foi também muito curto", diz o compositor e produtor Sérgio Augusto, que mantém um site sobre os festivais brasileiros de música. Para o compositor, o fato de as televisões terem deixado de transmitir as apresentações afastou o interesse do público. "Naquela época os festivais eram televisionados, apesar de durar meses. Que canal faz isso hoje?"
Em 1966, a Record passou a realizar o festival anteriormente feito pela Excelsior. O segundo dessa fase é considerado o melhor de todos. Naquele ano, a disputa foi entre A Banda, de Chico Buarque, interpretada por Nara Leão, e Disparada, escrita por Théo de Barros e Geraldo Vandré e interpretada por Jair Rodrigues. No final, o júri optou por A Banda, mas a pedido do próprio Chico foi concedido o empate. A edição do ano seguinte também não deixou a desejar. Dela saíram músicas como Domingo no Parque, de Gilberto Gil, Roda Viva, de Chico Buarque, e Alegria, Alegria, de Caetano Veloso. A grande vencedora desse ano foi Ponteio, de Edu Lobo (foto) e Capinam. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o Festival Internacional da Canção sagrava Saveiros, de Nelson Motta e Dori Caymmi. Já o segundo FIC entrou para a história por ter mostrado Milton Nascimento ao Brasil. Em 1967, pipocaram festivais pelo Brasil, 12 ao todo.


Fatalistas, complacentes e otimistas
"Tempo bom que não volta mais." Esse é o tom do discurso dos que acreditam que os festivais daquela época não deixaram herdeiros à altura. Um deles é o pesquisador musical José Ramos Tinhorão. "O festival morreu", sentencia. "A tentativa de ressuscitá-los mostra isso. Quais foram as novidades que apareceram nestes últimos? Nenhuma! É uma repetição de novos Miltons e novos Caetanos, fórmula que está esgotada", acredita ele. Por outro lado, há o time dos esperançosos. Como o compositor e professor Luiz Tatit. "Os festivais ainda estão servindo para demonstrar a quantidade de autores desgarrados que existe pelo Brasil afora. O número de inscrições é sempre impressionante." Para Tatit, o Prêmio Visa é um exemplo de busca por "um novo modelo de festival, baseado em diversas músicas do compositor e não em apenas uma". O produtor Sérgio Augusto é mais otimista: "Os festivais continuam vivos, sim. Só que migraram para o interior do Brasil, coisa que a grande imprensa não acompanhou. Temos festivais importantes que ainda revelam talentos". Segundo o produtor, merecem destaque, o Festival de Avaré, no interior do estado, e o de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. "Por esses eventos passaram nomes como Lenine e Chico César", ressalta.

Fonte: www.festivaisdobrasil.com.br

 

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