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Control - Z

por Daniel Hanai

Ilustração: Marcos Garuti



Para quem não sabe, control-Z é um comando para desfazer tarefas no computador. Por exemplo, quando fizemos alguma operação errada no micro, basta teclá-lo que ele desfaz a ação indesejada.



Imagine ter uma operação dessas na nossa vida real! Quando criança, eu quebrava relógios ao invés de consertá-los, derrubava castelos de cartas só de me aproximar e nunca conseguia juntar mais do que cinco peças do Lego sem destruí-lo. Esse comando seria uma panacéia para todos os meus desastres.
Sabe aquele vaso que você queria pintar e não ficou exatamente da cor planejada? No meio digital, "pintar" é chegar num consenso entre tentativa e acerto. É como uma brincadeira: errou, desfaça e tente de novo de outro jeito, para ver se fica melhor.



Muitas das nossas brincadeiras apenas se tornaram virtuais. Qual é a diferença entre um álbum de fotografias e um fotolog? Ou entre um diário e um blog? A diferença está no suporte usado, no alcance de público e na possibilidade de refazer.



Esse processo de alteração e tentativa ocorre no mundo virtual das mais variadas formas. Os softwares livres com os códigos abertos, por exemplo, podem ser modificados e melhorados por qualquer programador. Do mesmo modo que qualquer usuário pode redefinir palavras na enciclopédia livre Wikipédia, produtores (ou curiosos) podem baixar arquivos de áudio de artistas brasileiros como Cibelle e DJ Dolores para a criação de novos remixes e composições.
Com todos esses mecanismos de atalho de alteração e facilitadores, todos podem se tornar artistas em potencial. Basta saber alguns códigos de HTML, alguns efeitos no Photoshop ou seguir a receita de bolo de sites do tipo "faça você mesmo".



Por outro lado, se todos têm a possibilidade de tentar, e principalmente poder mostrar o que estão fazendo, temos então uma forma de expressão artística mais democrática, distinta dos meios de comunicação antes habituais. Fotologs, blogs e videologs potencializam a esses novos artistas ou pseudo-artistas - que usam como instrumento de captação os próprios celulares, web cams ou máquinas digitais - a possibilidade de apresentar ao mundo suas criações. A técnica abriu mão da criatividade e a internet gerou espaços livres de permanente divulgação, esta antes restrita a galerias de arte, festivais e mostras com datas e horários de visitas prefixados e pré-seleção de obras.
Mas como acessar tantas supostas opções assim? Eis que surge o papel do link: sendo uma página ou um blog interessante, cada vez mais o endereço será repassado pelos usuários - em vez de boca a boca, passamos para o e-mail a e-mail até chegar à "caixa postal do povo", formando assim o filtro crítico da platéia!



Essa platéia, incluindo eu e você, é quem conversa com letras (lê-se bate-papo na net), namora em pixels, e joga paciência com as cartas em pé. É ela também que define quais ferramentas de comunicação usaremos, quais os jogos e manias que vão estar na rede.



Você sabia que o fenômeno de rede de relacionamento e busca de popularidade chamado Orkut só acontece no Brasil? A propósito, você já digitou seu nome completo num site de busca para ver quantas citações suas (ou de seus heterônimos) aparecem na net? Eis outro ótimo exercício de auto-estima, a brincadeira vale a pena!



Enfim, o mundo virtual não é o bicho-de-sete-cabeças que muitos imaginam e tampouco se resume a digitar um documento ou checar sua caixa postal. Ele pode ser encarado como um espaço de muitas experimentações e possibilidades de expressão para todos os gostos. Basta ter vontade e paciência, e se errar é só começar de novo ou "dar um control-Z"!


Daniel Hanai, formado em engenharia e especialista em comunicação, é técnico do Sesc São Carlos

 

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