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Entre o remédio e o veneno
Comportamento
As
idéias do jornalista e crítico cultural norte-americano
Gerald Jones lembram muito a máxima que diz que entre o remédio
e o veneno a diferença é a dose. Polêmico, o veterano
da indústria de histórias em quadrinhos sobre super-heróis
- ele já ajudou a criar algumas aventuras de ícones como
Batman, Super-Homem e Homem Aranha - é autor do livro Brincando
de Matar Monstros - Por Que as Crianças Precisam de Fantasia, Videogames
e Violência de Faz-de-Conta (Conrad Livros, 2004), que defende a
idéia de que as lutas entre os monstrinhos do desenho Pokémon
ou os socos e pontapés de alguns videogames não necessariamente
criam crianças e jovens violentos. "Para os adolescentes essa
violência é importante, ela é como um rito de passagem",
afirma. Quando esteve no Brasil, em abril, para dar duas palestras no
Sesc Consolação, o colaborador do jornal norte-americano
The New York Times - e pai do jovem Nickolas, de 13 anos - falou com exclusividade
à Revista E. A seguir, trechos: No Brasil, nos Estados
Unidos existe uma postura parecida em relação à chamada
indústria cultural: achar que tudo que vem dela é ruim.
É um tanto comum isso de as pessoas quererem parecer mais inteligentes
e cultas e para isso falam mal da indústria cultural. As pessoas
se sentem bem fazendo isso porque é uma experiência comum,
todo mundo comenta e concorda. Fora isso, há outro elemento: ao
falar mal da cultura de massa, o indivíduo se coloca fora dela,
se destaca, torna-se especial. Soma-se a tudo isso a postura dos acadêmicos,
que estão um pouco distantes e investem tempo e intelectualidade
para criar os argumentos do porquê de eles não gostarem da
cultura de massa. Nos Estados Unidos se usa o termo ivory tower [torre
de marfim]: os acadêmicos ficam no alto da torre vendo o pântano
lá embaixo. Eu conheço vários acadêmicos, principalmente
os que têm por volta dos 35 anos, que gostam da cultura de massa,
vão ao cinema para assistir aos blockbusters [produções
mais voltadas para o cinema comercial e que se tornam sucesso de público],
jogam videogames etc. Por outro lado, muitos acadêmicos que tendem
para uma orientação ideológica de esquerda, costumam
criticar e ver esse tipo de manifestação como algo ruim
ou maléfico. Eles vêem isso como uma ferramenta do capitalismo.
Mesmo os acadêmicos que vêem blockbusters e que jogam videogame
tendem a criticar a cultura de massa como uma parte ruim ou negativa do
capitalismo. Ao mesmo tempo existem os acadêmicos de direita, que
são mais ligados ao governo, à Igreja e às instituições
tradicionais, e que igualmente vêem a cultura de massa como algo
ruim, algo que não faz bem para a sociedade. Nesse caso, isso ocorre
porque para eles é importante manter as tradições,
as crenças enraizadas, o status quo [expressão em latim
derivada de in statu quo ante, que significa no estado em que (se encontrava)
antes]. Logo, esse tipo de cultura pode levar a sociedade ao caos, à
fragmentação e a uma perda de controle. É curioso
verificar que nessas duas tendências, tanto na de esquerda quanto
na de direita, existe uma crítica à violência que
lança mão de argumentos diferentes e acaba chegando aos
mesmos pontos, como a violência nos games, por exemplo. Ou seja,
no final, ambas as tendências acabam tendo a mesma posição.
Os conservadores vêem a mídia de massa como ameaça
que pode incentivar a violência civil, e os teóricos de esquerda
acreditam que a cultura de massa está treinando as pessoas para
ser mais militaristas. O limite da violência
Auto-afirmação
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