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A mãe natureza como matéria-prima

Cresce o interesse pelos recursos naturais do país

EVANILDO DA SILVEIRA


Índia caiapó coleta castanha na mata
Foto: Luiz Carlos Sampaio

Com 13% de toda a vida do planeta, o Brasil é o campeão mundial da biodiversidade, uma riqueza que aos poucos começa a ser explorada pelo país. Os números variam, mas estima-se que vivam no território nacional algo entre 170 mil e 210 mil espécies já conhecidas de plantas, animais e microrganismos – cifra que pode chegar a 2 milhões, segundo alguns especialistas. É um grande supermercado a céu aberto, capaz de fornecer alimentos e materiais para artesanato, móveis e decoração e construção civil, além de substâncias químicas, desenvolvidas em milhares de séculos de evolução, aproveitáveis nas indústrias farmacêutica e de cosméticos, por exemplo.

Uma prova do interesse crescente pelo potencial econômico dos recursos naturais do país foi dada em novembro de 2005 com a realização, em São Paulo, do Mercado Floresta, a primeira feira de produtos florestais sustentáveis realizada no Brasil. Idealizada pela organização não-governamental (ONG) Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, o evento ocorreu na Oca do Parque Ibirapuera e atraiu 8,4 mil visitantes, muitos dos quais com a intenção de realizar negócios nesse setor.

O objetivo dos organizadores foi apresentar aos mercados interno e externo o grande potencial das florestas brasileiras como fornecedoras de matérias-primas para a indústria. Foram expostos 204 empreendimentos de setores como o de cosméticos, farmacêutico, alimentício, moveleiro, têxtil, de construção civil, turismo, decoração, artesanato e embalagem. Entre os produtos comercializados na feira estavam óleo de castanha, madeiras, polpa de cupuaçu, cacau e peixes.

As transações efetuadas servem como uma pequena mostra do potencial do mercado de produtos extraídos das matas do Brasil. Estima-se que hoje sua exploração responda por cerca de 5% do PIB do país, 4% dos quais vêm das florestas e o restante da pesca. Em termos mundiais, segundo uma reportagem publicada recentemente na prestigiosa revista científica britânica "Nature", calcula-se que o valor dos benefícios proporcionados pela natureza à humanidade pode atingir US$ 33 trilhões por ano. Entre eles estão a regulação da temperatura e do clima, que permite o desenvolvimento da agricultura, a manutenção dos mananciais de água, além da obtenção de uma infinidade de produtos. É um patrimônio que muitas empresas já estão explorando.

Que o diga o laboratório americano Bristol-Myers Squibb, que vem faturando US$ 5 bilhões por ano com a venda de um medicamento feito a partir de uma substância proveniente da biodiversidade brasileira. Trata-se do Captopril, usado para combater a hipertensão, cujo princípio ativo foi retirado do veneno da jararaca. As primeiras pesquisas foram feitas na década de 1960, pelo médico e farmacologista Sérgio Henrique Ferreira, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

Ele isolou do veneno da cobra um princípio capaz de ativar a bradicinina, substância encontrada no sangue humano e responsável pela vasodilatação, reduzindo, assim, a pressão arterial. Por causa de um problema crônico da ciência brasileira, a falta de recursos, Ferreira teve de abandonar essa pesquisa. Na década seguinte, a Bristol-Myers Squibb, com base nas descobertas do pesquisador da USP, isolou do veneno da jararaca uma molécula diferente da que o brasileiro havia estudado antes.

Dessa vez, no entanto, os cientistas conseguiram transformar a nova substância numa droga eficaz. Esse sucesso gerou a lenda de que a Squibb teria roubado a descoberta de Ferreira. O próprio pesquisador já desmentiu a história e diz que nada disso aconteceu: "O que faltou, na verdade, foi dinheiro para levar adiante minha pesquisa", diz ele.

Mais recentemente, um outro remédio foi desenvolvido a partir de substâncias retiradas de uma espécie nativa do Brasil, dessa vez uma planta. Em junho de 2005, a Aché Laboratórios Farmacêuticos lançou no mercado o Acheflan, o primeiro medicamento totalmente brasileiro. Trata-se de um antiinflamatório cujo princípio ativo foi retirado da Cordia verbenacea, um arbusto conhecido popularmente por erva-baleeira, comum em todo o litoral brasileiro e muito usado pela população em forma de chá e infusões.

A gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Aché, Raquel Smaletz Tcherniakovsky, conta que o Acheflan começou a ser desenvolvido em 1998, em parceria com as universidades Federal de Santa Catarina (UFSC) e estaduais de São Paulo (USP) e de Campinas (Unicamp). Para ela, é um marco na indústria nacional e um exemplo mundial a ser seguido na pesquisa e desenvolvimento de fitomedicamentos. O Acheflan foi lançado em junho de 2005 e em setembro já era líder do mercado em sua categoria.

Mais barato

Não é por acaso que a indústria farmacêutica se volta para as florestas em busca de substâncias que possam ser transformadas em novas drogas. É muito mais rápido e barato aproveitar o que as plantas e outros organismos fornecem sem cobrar nada do que produzir sinteticamente uma molécula com propriedades terapêuticas. Sintetizar um novo medicamento demora, em média, cerca de 15 anos e custa de US$ 250 milhões a US$ 880 milhões. Já se ele for desenvolvido a partir de uma substância retirada de uma planta levará de 5 a 9 anos para ficar pronto e demandará de R$ 4 milhões a R$ 50 milhões. Sabendo-se que o Brasil conta com 55 mil espécies vegetais catalogadas, ou 22% do total do planeta, pode-se imaginar a riqueza que o país tem nessa área.

A indústria farmacêutica não é a única, no entanto, a tirar proveito da natureza. Mais até do que ela, o setor de cosméticos investe pesado na exploração da biodiversidade, principalmente no Brasil. Grandes empresas do mundo todo, inclusive nacionais, retiram das florestas do país uma variada gama de substâncias, como óleos essenciais, extratos, resinas, manteigas e argilas, que entram na composição de perfumes, sabonetes, cremes, xampus, condicionadores, loções, batons e outros artigos de maquiagem. É um mercado que vem crescendo, em grande parte por causa do número cada vez maior de consumidores preocupados com a origem dos produtos que usam e com as questões ambientais.

Um exemplo de empresa que faz sucesso nesse setor é a brasileira Beraca Ingredients, que produz e distribui a linha Rain Forest Specialties para mais de 30 países. Seu catálogo é constituído de óleos, manteigas, argilas e outros produtos provenientes das matas brasileiras. Segundo Filipe Sabará, gerente de marketing e porta-voz da empresa, essas matérias-primas são coletadas em seu local de origem, a maioria na Amazônia, por comunidades extrativistas. "Depois de beneficiados em nossas fábricas, os produtos são destinados aos clientes da Beraca, que são as indústrias de cosméticos, de fragrâncias e farmacêuticas", explica ele.

Segundo Sabará, essa linha faz parte do Programa Beraca de Valorização da Biodiversidade, cujos alicerces são a produção sustentável e a responsabilidade social e ambiental. "Fomos a primeira empresa a obter a certificação do Forest Stewardship Council (FSC), ou Conselho de Manejo Florestal, sediado na Alemanha, para insumos não-madeireiros, fruto de nosso trabalho pioneiro na identificação, treinamento e capacitação das comunidades produtoras", diz. Essa certificação é dada a produtos que utilizam matéria-prima florestal e tenham garantido o seu rastreamento desde a origem até o consumidor final. Isso quer dizer que, para todo lote produzido, a empresa sabe onde e quando ele foi coletado, qual o fornecedor e sua qualidade na entrada e na saída, já processado.

Os ingredientes que a Beraca industrializa e fornece às fábricas de cosméticos são extraídos de plantas como o açaí (Euterpe oleracea), a andiroba (Carapa guianensis), o buriti (Mauritia vinifera), a copaíba (Copaifera langsdorffi), o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), o maracujá (Passiflora sp), o murumuru (Astrocaryum murumuru) e a ucuuba ou pau-de-sebo (Virola sebifera). No total, são processadas 10 toneladas de sementes por dia. A empresa, que tem 250 funcionários e unidades em São Paulo e no Pará, não revela o faturamento, só os investimentos. Nos últimos três anos, US$ 4 milhões foram aplicados na divisão de cosméticos, e os planos são de, até 2010, destinar mais US$ 6 milhões a essa área. "A maior parte desses recursos foi empregada em pesquisa e desenvolvimento", informa Sabará.

Uma outra parcela foi destinada a várias comunidades espalhadas pelo país, que coletam a matéria-prima na floresta. Um caso que exemplifica bem a atuação da Beraca é a exploração de andiroba na ilha de Marajó. Trata-se de uma árvore alta e frondosa, típica da região amazônica, de cujas sementes é extraído um óleo que tem várias aplicações – entre os caboclos é empregado no tratamento de inúmeras doenças e como repelente de insetos. No caso da indústria, ele é usado para esse último fim e como matéria-prima para cosméticos.

Até a Beraca demonstrar interesse pela andiroba, sua sementes eram desprezadas pelos pescadores marajoaras. Para sobreviver na época das cheias, de janeiro a julho, quando sua atividade fica muito reduzida, devido à migração dos peixes, eles acabavam praticando o corte ilegal de árvores. Isso chamou a atenção da Beraca, que lá implantou seu Programa de Valorização da Biodiversidade. Hoje os pescadores coletam as sementes de andiroba que são lançadas pela maré nas praias da região e as vendem para a empresa. "Esse trabalho garante a manutenção da atividade econômica e a sobrevivência de aproximadamente 2 mil famílias de pescadores da maior ilha do país", diz Sabará.

Comunidades extrativistas

Atuação semelhante tem a Natura, que também compra insumos naturais coletados na Amazônia. Um exemplo é a parceria que a empresa estabeleceu com a comunidade extrativista da vila de São Francisco do Rio Iratapuru, em Laranjal do Jari (AP), para a exploração sustentável de uma resina extraída da árvore chamada breu-branco (Protium sp), usada como matéria-prima em alguns produtos da linha Ekos. A Natura, que tem 4 mil funcionários e receita bruta de R$ 3,24 bilhões em 2005, busca garantir aos membros da comunidade trabalho constante, estimulando o desenvolvimento de novas atividades produtivas para o incremento da renda daquela região.

Segundo sua assessoria de imprensa, graças a essa forma de atuação a empresa foi a primeira no Brasil a ter um pedido para explorar o patrimônio genético da biodiversidade brasileira autorizado. A permissão foi concedida em fevereiro de 2005 pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), órgão do Ministério do Meio Ambiente que coordena as políticas relacionadas a essa área, incluindo o conhecimento tradicional associado, assim como regula o acesso a esses recursos. A licença é um marco histórico para o uso sustentável da riqueza natural do país. A empresa também conseguiu a aprovação do mesmo processo pelo Conselho de Acesso aos Recursos da Biodiversidade (Carb), órgão do estado do Amapá.

Encravada na floresta amazônica, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru estende-se pela margem esquerda do rio Jari, no Amapá. Seus 800 mil hectares abrigam cerca de 30 famílias cuja vida está intimamente associada, há gerações, à coleta da castanha-do-brasil. A castanheira é fonte de tantos recursos que a preservação dessa espécie é protegida por lei no país. Além da resina do breu-branco e do óleo da castanha, ingrediente que é explorado de maneira sustentável e utilizado na produção de cosméticos, a Natura compra da comunidade o óleo de copaíba. Assim como a Beraca, a Natura também obteve a certificação FSC para essas três matérias-primas.

Para criar seus produtos, às vezes a Natura faz parceria também com outras grandes empresas. É o que ocorre no caso do Perfume do Brasil, vendido no país e na loja da empresa em Paris. O óleo essencial desse perfume, extraído da priprioca (Cyperus articulatus), árvore aromática da Amazônia, é fornecido pela Beraca, e a essência foi criada pela multinacional Givaudan, considerada uma das maiores casas de fragrâncias do mundo.

A Beraca foi responsável pela organização da produção do óleo essencial da priprioca entre as comunidades locais, responsabilizando-se pela compra do material coletado e pelo processamento inicial, em sua fábrica na Amazônia. Depois dessa etapa, que consiste na destilação do óleo essencial da raiz da priprioca sem adição de solventes químicos, visando atender aos padrões estabelecidos pelas empresas participantes do projeto, o produto é enviado para a fábrica da Givaudan em São Paulo, para a elaboração da fragrância exclusiva para o Perfume do Brasil, que finalmente é produzido pela Natura.

Pequenos projetos

Ao lado da atuação de grandes empresas, há uma infinidade de pequenos projetos comunitários de exploração da biodiversidade brasileira, a maior parte liderados por organizações não-governamentais (ONGs). É o caso do Projeto Abelhas Nativas, desenvolvido pela Associação Maranhense para a Conservação da Natureza (Amavida), com a coordenação técnico-científica da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A iniciativa alia a conservação das abelhas nativas brasileiras à sustentação econômica de comunidades rurais de uma região com um dos menores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil, que é o nordeste do Maranhão.

Segundo o biólogo Murilo Drummond, da Amavida, responsável pelo projeto, a idéia começou a ser colocada em prática em 2001, por causa da necessidade de preparar as comunidades da região para o surto de crescimento da exploração do cerrado pela eucaliptocultura e pela sojicultura. Atualmente são beneficiadas 180 famílias, de 19 comunidades rurais de nove municípios. A possibilidade de acréscimo à renda de cada uma delas, com a apicultura, é de até R$ 150. "Considerando que a renda atual é de R$ 70, esse valor se torna bem significativo", diz Drummond.

Hoje são criadas três espécies de abelhas nativas: a tiúba (Melipona fasciculata), bastante comum no Maranhão, a uruçu (Melipona flavolineata) e a jandaíra (Melipona subnitida), todas excelentes produtoras de "natmel" (mel de nativas). As vantagens dessas espécies são várias. Uma delas é que elas não têm ferrão e, por isso, podem ser criadas perto das residências, por adolescentes e por donas de casa com crianças, que de outra forma não teriam uma ocupação remunerada.

O custo extremamente baixo de criação e dos equipamentos necessários para processar o natmel é outra vantagem. Além disso, esse produto possui propriedades medicinais ainda pouco compreendidas pela medicina, mas bastante valorizadas pelas comunidades tradicionais, principalmente indígenas. "Essas abelhas fornecem também própolis, de grande valor de mercado e que, em pesquisas recentes, vem apresentando resultados surpreendentes no tratamento de câncer", acrescenta Drummond.

Do ponto de vista ecológico, a criação dessas espécies traz ainda grandes benefícios ao meio ambiente. "Pelo fato de terem sido moldadas pela evolução, numa relação íntima com as plantas regionais ao longo de milhares de anos, elas são mais eficazes na polinização", explica Drummond. Por essa razão, essas abelhas são fundamentais para a normalização do ciclo de reprodução da vegetação local. Elas asseguram maior formação de frutos e sementes, o que acaba beneficiando também a fauna regional.

Frutos do cerrado

Um pouco mais abaixo no mapa do Brasil, mais precisamente às margens do rio Araguaia, na região da ilha do Bananal, desenvolve-se um outro projeto comunitário de aproveitamento dos produtos oferecidos pela natureza – nesse caso, os frutos do cerrado, transformados em doces e licores, e suas sementes, usadas na confecção de jóias e bijuterias. O trabalho é coordenado pelo Instituto Ecológica (IE), uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), sem fins lucrativos, que atua na região de contato entre o cerrado e a Amazônia, desenvolvendo projetos e pesquisas sobre mudanças climáticas e conservação da biodiversidade.

Ainda na fase inicial, o trabalho beneficia cerca de 20 famílias. Elas receberam cursos sobre os modos de explorar os frutos do cerrado de maneira sustentável e sobre qualidade e padronização de produtos. "Devagar, a comercialização já começou, e podem-se notar os ganhos ecológicos e econômicos quando observamos a mudança de pensamento da comunidade quanto ao meio ambiente. Espécies que não eram utilizadas agora têm seu valor", conta Eliana Pareja, coordenadora do projeto. Segundo ela, nos assentamentos, onde se desmatava o cerrado, hoje se tem mais cuidado para preservar espécies frutíferas. Quanto à questão financeira, com as vendas dos doces, licores e jóias, houve um aumento de até 40% na renda familiar.

Entre os frutos mais usados estão a mangaba (Hancornia speciosa), a cagaita (Eugenia dysenterica), o buriti, o cajá (Spondias lutea), o cajuí (Anacardium humile), o murici (Byrsonima sp) e o jenipapo (Genipa americana). Para as jóias, são aproveitadas as sementes de bacaba (Oenocarpus bacaba), buriti, olho-de-boi (Talisia esculenta), jatobá (Hymenaea courbaril), babaçu (Orbignya speciosa), baru (Dipteryx alata), mirindiba (Terminalia brasiliensis), tucum (Bactris glaucescens) e açaí. Além de elevar a renda das famílias participantes, o projeto aumenta o conhecimento que elas têm do cerrado, o que contribui para a conservação desse bioma. "Quando se conhece, é mais fácil preservar", diz Eliana.

Ressaca da ilegalidade

Os índios sabem disso há milhares de anos, mas depois do contato com o branco parte deles esqueceu esse cuidado, pelo menos por certo tempo. Foi o que aconteceu com algumas tribos caiapós do Alto Xingu, que até 2001 viviam do corte ilegal do mogno. Com o cerco da fiscalização, cuja meta era acabar com a exploração predatória de madeira, eles tiveram de encontrar outras alternativas para sobreviver. Para isso, contaram com a ajuda do Instituto Raoni, fundado em 2001, com o apoio da Funai e do governo da Bélgica, para defender os interesses dessa etnia. "O objetivo da entidade é implantar projetos econômicos viáveis, que resultem na autonomia das comunidades, sem, no entanto, alterar o habitat e o ambiente dos índios", explica Luiz Carlos Sampaio, coordenador da ONG.

Foi assim que surgiu um projeto de exploração sustentável do óleo de castanha-do-brasil, que atualmente beneficia cerca de 1,1 mil pessoas que vivem em três comunidades. Em 2001, a Funai começou a criar a infra-estrutura necessária para o aproveitamento do produto. De acordo com Sampaio, a princípio foi muito difícil, pois os índios demoraram a se curar da ressaca da ilegalidade. Em 2002, no entanto, a situação passou a melhorar, depois que o cacique Raoni esteve na Bélgica, fazendo campanha e solicitando apoio para o projeto da castanha. "Em 2003, ele recebeu a ministra belga do meio ambiente, Vera Dua, que se empenhou para que fosse implementado o Instituto Raoni, e a partir daí as coisas deslancharam", lembra Sampaio.

O resultado é que hoje esse projeto está funcionando muito bem nas três aldeias, que estão na sua segunda safra. O ano de 2005 foi bom, principalmente porque houve abundância de castanhas e os índios conseguiram vender todo o óleo na feira Mercado Floresta, o que rendeu a eles R$ 150 mil. Em 2006, os castanhais produziram cerca de 50% menos, por causa da oscilação natural das condições da mata. Para este ano, a previsão é que as árvores voltem a dar muita castanha e a produção de óleo bruto seja maior do que a de 2005, quando a safra atingiu cerca de 6 mil litros.

Projetos como esse e a atuação de algumas empresas de porte demonstram que é grande o potencial econômico dos recursos naturais do Brasil. "Pode-se dizer que o mercado que gira em torno da biodiversidade brasileira ainda está em sua infância, se comparado, em termos de oferta e estruturação, ao de produtos hortifrutigranjeiros, cereais e carnes em geral", diz Luiz Villares, da Amigos da Terra. Em sua opinião, é um começo promissor, com grande atenção da comunidade ambientalista, que vê essas iniciativas como um prenúncio de melhor uso da riqueza natural. 

 

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