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Sem união não haverá crescimento

 

Foto: Gabriel Cabral

ABRAM SZAJMAN

O ano de 2002, marcado por embates políticos e séria crise econômica, aproxima-se de seu final carregado de nuvens de apreensão. A taxa cambial atingiu níveis perigosos, vítima de especulação desenfreada, de fuga de capitais e das incertezas de praxe. Como chegamos a este ponto?

Em recente reunião na Federação do Comércio do Estado de São Paulo, o economista Julian Chacel respondeu à pergunta, oferecendo um diagnóstico esclarecedor sobre a realidade brasileira. A situação do país, afirmou, resume-se a uma palavra: fragilidade. Fragilidade que decorre de dois fatores: endividamento do setor público, incapaz de pagar suas contas com recursos advindos dos impostos, e forte dependência externa.

Os dois fatores têm como conseqüência uma taxa de juros exorbitante, que estende seus reflexos maléficos sobre o setor produtivo da economia, reduzindo atividades, o consumo e, evidentemente, o emprego.

De 1950 a 1980, o Brasil teve crescimento médio de 7,4% ao ano. Um país em franco desenvolvimento, portanto. Mas de 1980 a 2000 esse indicador caiu para 2,1%. Se considerarmos que nesse período os índices demográficos praticamente se contiveram, pode-se concluir que sofremos, na verdade, duas décadas de estagnação.

Esse é o cenário que se apresenta para o novo governo, que acaba de ser escolhido pela população. Não é por acaso que das urnas eletrônicas tenha surgido um recado muito claro: queremos mudanças.

As mudanças, entretanto, dependem do nível de governabilidade que o Executivo encontrará pela frente. O partido vencedor, embora tenha ampliado consideravelmente sua bancada no Congresso, está longe de ter maioria. Somente um exercício competente de habilidade política poderá aglutinar forças e direcionar os esforços para que se aprovem reformas, principalmente aquelas que ferem interesses e significam sacrifícios para parcelas ou segmentos da sociedade.

Para consertar o desequilíbrio do setor público, por exemplo, será necessário um ajuste fiscal, medida que não se concretiza no curto prazo. Leva tempo, talvez um mandato inteiro, o que por si só significa barreira gigantesca. E para reduzir a dependência externa precisamos ampliar o esforço exportador, aumentando o saldo comercial e favorecendo, paralelamente, a produção interna e a taxa de emprego.

Pode-se concluir, portanto, que a saída para o país passa basicamente por dois superávits: o fiscal, que eliminará o inchaço do endividamento interno, e o da balança comercial.

O ajuste fiscal traz necessariamente embutido certo caráter recessivo, o que significará para o país um crescimento modesto. Segundo o economista, "com sorte, ficará entre 2% e 2,5% nos próximos quatro anos", pois crescer 5% ou 6% não passa de uma ilusão, "sonho de uma noite de verão".

Como se vê, as perspectivas não são boas. Igualmente não seriam melhores se quem vencesse as eleições fossem os partidários do governo que agora termina. Na verdade, estamos em uma crise que independe de partidos ou de correntes ideológicas. Mas que está aí, e precisa ser enfrentada com coragem e decisão. Sob esse aspecto, o melhor a fazer é apoiar todas as medidas que visem a busca do reequilíbrio das contas, a volta do crescimento, a redução dos juros e a conquista de investimentos externos.

Em relação às contas públicas, volto a citar Julian Chacel, que diagnostica como um de nossos defeitos a montagem do orçamento, feita com despesas predeterminadas, o que vincula receita a gastos, de tal forma que, se aquela cresce, estes se ampliam automaticamente. Para sanar o problema ele sugere a desvinculação orçamentária, assim concebida: a despesa de um ano não pode exceder os gastos do ano anterior. Assim, qualquer aumento da receita, além de aliviar a pressão sobre os juros, permitiria ao governo ampliar seus investimentos, seja em projetos sociais, seja em infra-estrutura, tão necessária para o desenvolvimento.

Não serão medidas populares, mas menos popular que elas certamente é a crise de crescimento que atravessamos, a falta de emprego, a ameaça do retorno da inflação, os juros nas alturas e o descalabro social que resulta disso tudo. Mais do que nunca, é tempo de união suprapartidária, consciente e patriótica, para garantir o futuro do país.