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“O novo normal”: um velho conhecido das lutas ambientalistas

Centro de Educação Ambiental Externo do Sesc Guarulhos. Foto: Thamires Motta
Centro de Educação Ambiental Externo do Sesc Guarulhos. Foto: Thamires Motta

O Sesc Guarulhos, por meio do Centro de Educação Ambiental, promove neste segundo semestre o ciclo de diálogos Viralizando Conhecimento, com o objetivo de gerar discussões sobre o panorama atual de saúde pública sob a luz de questões socioambientais.

É verdade que a conjuntura vivenciada por nós traz elementos novos à realidade. O estado de emergência global causado pela pandemia de Covid-19 atingiu com grande velocidade uma amplitude sem precedentes, em grande parte como reflexo de processos globalizantes em curso. Esta situação inédita reverberou no cotidiano de muitas pessoas e causou impactos diversos em distintas esferas da sociedade, principalmente no sistema público de saúde.

Entretanto, o fenômeno apregoado como “O novo normal” nos veículos midiáticos tem entre suas causas velhos conhecidos. A origem do vírus Sars-Cov-2 e a pandemia emergente deste processo não são episódios que simplesmente estão ligados à saúde pública. Estes eventos surgiram em razão da existência  de um modelo de organização social e econômica cuja base é a dissociação e desarmonia  entre a sociedade e a natureza e o tão propagado (des)envolvimento econômico - no sentido de oposição ao envolvimento entre as esferas humana e natural, que na realidade são uma só -, que coloca os seres humanos como dominadores da natureza e só faz aprofundar as desigualdades.

Partindo disto, muitos ambientalistas dizem que as determinantes da crise sanitária que vivenciamos não são novas. O modelo desenvolvimentista, exploratório e colonialista, fundado em uma lógica de produção/consumo insustentável e produtor de desigualdades, foi construído historicamente como “a melhor solução para a organização da sociedade”. Ele tem como fruto não só a pandemia de Covid-19, mas também o colapso socioambiental em curso. Este último já vem há algum tempo sendo objeto de reflexão e ação dos movimentos ambientalistas, sobretudo da Educação Socioambiental em sua macrotendência crítica, e por isto acreditamos que ela seja uma forte estratégia para o enfrentamento à situação posta.

As desigualdades sociais e econômicas, a falta de acesso ao saneamento básico, a devastação de ecossistemas naturais para a expansão de fronteiras agrícolas e centros urbanos, a vulnerabilidade dos povos tradicionais, o estilo de vida nas cidades (que abrigam mais de 87% da população no Brasil, segundo dados do IBGE de 2015), e a emergência climática global são apenas alguns dos componentes desta crise socioambiental produzida pela lógica de organização socioeconômica hegemônica, e que geram importantes agravos à crise sanitária que vivemos.


Centro de Educação Ambiental Externo do Sesc Guarulhos. Foto: Thamires Motta

Esta pandemia, no entanto, oferece uma perspectiva para mudança e, como Ailton Krenak nos traz em O amanhã não está à venda, as mudanças já vêm sendo gestadas por diversos grupos como comunidades tradicionais - tantas delas, inclusive, com muita potência - e tomara que algo de novo esteja a caminho, para que possamos fazer jus ao sofrimento de tantas pessoas. Neste sentido, precisamos esperançar. Não esperando que a realidade se altere por si só, conformados, mas como Paulo Freire nos ensina, temos que cultivar a esperança indo atrás, reagindo, e mesmo que a situação seja a mais adversa, não desistir. É com este intuito que trazemos o projeto Viralizando Conhecimento a público.

Em uma série de encontros virtuais, o projeto tem a intenção de mobilizar discussões e articular questões que vêm sendo discutidas nos fóruns ambientalistas à luz da atual conjuntura. São diversos os aspectos da Educação para a Sustentabilidade que estabelecem interfaces com o contexto de saúde pública que vivemos, como a devastação do meio ambiente, educação, decolonialidade, saneamento, saúde ambiental, física e emocional, utopias, questões sociais e econômicas. Dar espaço e difundir, “viralizar” - expressão usada para designar a difusão de conteúdos no meio virtual, fazendo referência à velocidade com que um vírus se propaga - diálogos que se articulam ao momento em que vivemos, faz parte do esperançar que o Centro de Educação Ambiental do Sesc Guarulhos propõe para  melhor entendermos a crise que vivemos e assim, possamos enfrentá-la de maneira crítica, consciente e transformadora.

 

Veja como foi a primeira live do Viralizando Conhecimento no Sesc Guarulhos, com a presença de Mariana Belmont.