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A voz do Jazz

Foto: Pixabay
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Por Amauri Martins*

 

Talvez muita gente não saiba, mas o jazz nasceu cantado. Lá nos primórdios, na virada do século XIX para o XX, o jazz era, a exemplo do blues, uma manifestação com fortes laços religiosos e, também, uma espécie de canto de trabalho das comunidades negras do sul dos Estados Unidos. Nesse contexto, a voz era um elemento central no qual os fiéis endereçavam suas preces às entidades superiores e trabalhadores passavam o tempo na dura realidade cotidiana dos campos e cidades.

Bem, de lá para cá muita coisa aconteceu. Altamente adaptável, o gênero sofreu ao longo do tempo inúmeras mutações. Entre os anos 1940 e 1970, três décadas especialmente prolíficas, o jazz foi apropriado pela elite branca norte-americana, retomado pelos negros, transformado em ícone intelectual, depois em discurso oficial, volta ao underground como expressão livre das vanguardas até se dispersar e ganhar definitivamente o mundo. Nesse curto tempo, novas denominações surgiram, outros elementos foram adicionados ao molho e o jazz se distanciou – sobretudo em favor do status quo – daquela origem ritualística de seu passado remoto.

Uma coisa, porém, nunca mudou totalmente: o lugar do canto. Embora o jazz cantado seja menos valorizado pelas vanguardas, ele segue muito popular entre os ouvintes e, por vezes, é a porta de entrada do complexo universo do gênero. 

Para esta edição da playlist Só jazz não basta?  foram selecionadas 29 faixas gravadas entre as décadas de 1930 e 1960. Esse repertório traça de maneira superficial da vasta produção do jazz cantado nestas três décadas.

Os ouvintes poderão conhecer e relembrar alguns clássicos, em versões mais ou menos conhecidas, na voz dos seus intérpretes tradicionais ou não. Um passeio pela era de ouro do swing às vanguardas da segunda metade dos anos 1960, uma geração marcada pelas tensões raciais e posicionamentos políticos mais contundentes.

Portanto, relaxe na sua cadeira favorita e deixe o som te levar a outras épocas.

 

*Amauri Martins é programador de música do Sesc SP e curador da playlist Só Jazz não basta?

 

Você pode escolher onde escutar - a mesma playlist está disponível no Spotify e no Deezer.