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Cinema Negro em cartaz

Entre 6 e 11 de agosto, o Sesc Vila Mariana recebe a 15ª Mostra Internacional do Cinema Negro. De acordo com o curador, Celso Prudente, a edição se dedica a questionar os padrões impostos no meio audiovisual, os quais muitas vezes deturpam a imagem do negro, colocando-o em uma posição passiva à imagem construída por um outro, o homem branco. A programação destaca o protagonismo negro na 7ª Arte e inclui mesas redondas e rodas de conversa, além da exibição de curtas e longas. Veja a seguir algumas curiosidades sobre filmes que serão apresentados na mostra!

Haroldo Costa, diretor do filme Pista de Grama (1958), que abre a mostra, integrou o Teatro Experimental do Negro, encabeçado pelo ator, diretor e dramaturgo Abdias do Nascimento, e foi o primeiro ator negro a atuar como protagonista no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. É de Vinicius e de Tom Jobim a música “Eu não existo sem você”, que em Pista de Grama é interpretada pela cantora negra Elizeth Cardoso, acompanhada por João Gilberto ao violão.

Mais de 40 anos depois, a história de amor de Orfeu e Eurídice seria retomada e filmada por Cacá Diegues. O longa Orfeu (1999) transpõe a tragédia grega ao universo negro do Morro da Carioca, no período do Carnaval. Os diálogos do filme foram escritos por Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus (1997) e a direção musical é de Caetano Veloso.

Orfeu (1999), de Cacá Diegues (Foto: Divulgação)

Barravento (1961) foi o primeira longa-metragem de Glauber Rocha, um dos mais importantes cineastas brasileiros e idealizador do Cinema Novo. A história se passa em uma aldeia de pescadores, cujos antepassados vieram da África escravizados, que se mantém unida em torno dos saberes sagrados do Candomblé. Atores brancos desempenhando papeis como o de um proprietário e de um policial.   

Compasso de Espera (1973) é o único longa-metragem de Antunes Filho, dramaturgo que batiza o teatro do Sesc Vila Mariana. O enredo chama atenção para o debate das relações étnico-raciais do negro fora do âmbito da pobreza. A partir da problemática de uma família negra de classe média, a trama se desenvolve em torno do drama do casal interracial Jorge e Cristina, vivido na atuação por Zózimo Bulbul e por Renée de Velmond. Zózimo Bulbul também participa da mostra como diretor, com Alma no Olho (1973), curta-metragem que apresenta uma metáfora sobre a escravidão e a busca da liberdade.

Alma no Olho (1973), de Zózimo Bulbul

Outro dramaturgo que marca presença na mostra é Zé Celso Martinez Corrêa, diretor do Teatro Oficina, que realizou o curta-metragem O Parto (1975) em parceria com Celso Luccas. O filme, que possui trechos documentais, tematiza o contexto da Revolução dos Cravos, em Portugal. 

O ator Antonio Pitanga atua tanto em Barravento quanto em Compasso de Espera. Na mostra, ele também está em O Grande Kilapy (2012), filme de Zezé Gamboa que aponta para a luta pela descolonização revolucionária de Angola. 

Barravento (1961), de Glauber Rocha

O documentário Ôri (1989), de Raquel Gerber, levou 11 anos para ficar pronto. O filme aborda os movimentos negros brasileiros entre 1977 e 1988, mas o roteiro, realizado pela historiadora Beatriz Nascimento, retoma a história dos quilombos como estabelecimentos guerreiros e de resistência cultural da África do século XV ao Brasil do século XX.

O Caso do Homem Errado (2017), de Camila de Moraes

A diretora Camila de Moraes, de O Caso do Homem Errado (2017), é a segunda mulher negra brasileira a dirigir um filme que estreou em circuito comercial. Também é sobrinha de Júlio César, o jovem operário negro executado pela Brigada Militar nos anos 1980, em Porto Alegre, que tem a sua história contada neste documentário.

Para conferir a programação completa da 15ª Mostra Internacional do Cinema Negro, acesse aqui